As vendas de álcool não refletem o sucesso do carro flex (bicombustíveis), que já representa 67% dos novos veículos. Para os distribuidores de combustíveis, está havendo fraude, com adição de água ao álcool.
Projeção do Sindicom (Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Combustíveis e Lubrificantes) aponta que o comércio regular de álcool aumentará só 2,3% no ano. O Sindicom atribui o descompasso ao chamado “álcool molhado” -prática irregular de misturar o álcool anidro (que deveria ser usado apenas para ser adicionado à gasolina), que não recolhe ICMS, com água. Estimativas de usineiros e distribuidoras apontam que 2,4 bilhões de litros de álcool são vendidos irregularmente. A sonegação, estimam, ultrapassa R$ 1 bilhão ao ano. Neste ano, o comércio regular do combustível atingirá 4,4 bilhões de litros.
A projeção do Sindicom foi feita a partir das informações oficiais da ANP (Agência Nacional do Petróleo), que indicam aumento de 1,6% no acumulado do ano até setembro. De janeiro a agosto, a ANP havia registrado queda de 0,5% nas vendas do combustível.
Os números contradizem os do Sindicom, que prevê um crescimento de 14,1% nas vendas de álcool. “O consumidor voltou a ter o álcool como opção. O Brasil está na vanguarda do mundo com a opção de combustíveis nos postos, mas ao mesmo tempo o mercado de álcool é uma esculhambação”, disse Alísio Vaz, vice-presidente do Sindicom.
Para a superintendente de Qualidade da ANP, Maria Antonieta Andrade de Souza, há um grande volume de álcool clandestino no mercado. Segundo ela, as análises da ANP identificaram várias amostras de álcool adulterado, com água acima do limite de 7%.
O problema, diz, levou a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) a procurar a agência por causa dos sucessivos defeitos em válvulas, bicos injetores e motores de veículos bicombustíveis ainda na garantia. “As montadoras identificaram que os defeitos ocorriam por causa do combustível adulterado”, afirmou. A Anfavea confirma a informação.
Para tentar equacionar o problema, a ANP decidiu, após ouvir os agentes do setor, adicionar um corante laranja a todo álcool anidro produzido no país. O produto já sairá das usinas com essa coloração. Assim, o consumidor poderá identificar se o álcool hidratado (o usado diretamente nos veículos) foi “molhado” já que, pelas novas regras da ANP, o álcool hidratado tem de ser incolor.
Segundo o diretor técnico da Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo), Antonio de Pádua Rodrigues, o “álcool molhado” piora a imagem do produto, num momento em que o país se esforça para exportá-lo. Segundo Pádua, dos 16,5 bilhões de litros de álcool produzidos na atual safra, ao menos 2 bilhões abasteceram o mercado ilegal.
Segundo acompanhamento de qualidade da ANP, 7,1% do álcool vendido estava fora das especificações. O Sindicom acredita que esse percentual seja bem maior.
Vendas
As vendas de combustíveis cresceram 1,5% em 2005 e atingiram 79 bilhões de litros, segundo dados divulgados ontem pelo Sindicom. Apesar do crescimento, o ritmo de expansão foi menor do que no ano passado, quando as vendas haviam crescido 4%. O faturamento do setor somou R$ 151 bilhões. Em 2004, havia sido de R$ 132,4 bilhões. Para o presidente do Sindicom, João Pedro Gouvêa Vieira Filho, o aumento do preço do petróleo e o cenário econômico impediram um avanço mais expressivo das vendas.
“A renda não cresceu no mesmo ritmo que o preço”, afirmou. Citou ainda a incerteza política: “Com o clima político e a paralisia que tomou conta do Congresso, não atingimos o desempenho esperado”.