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O homem de 30 milhões de camisas

O entra-e-sai sem parar no escritório de Wander Carlos de Souza em Acreúna, cidade de 20 mil habitantes a 150 quilômetros de Goiânia, não condiz com o jeitão pacato do município. Pessoas de todos os tipos andam por ali. São produtores rurais, empresários, políticos, funcionários da prefeitura, figurões do município, desempregados, bajuladores, gente desesperada, gente importante… Todos, ou quase todos, querem pedir alguma coisa, um emprego para o filho, dinheiro para um projeto, ajuda na negociação de um contrato. É que Wander de Souza é um homem poderoso. “Dizem por aí que sou o maior produtor individual de algodão do Brasil”, comenta.

E é mesmo. Em 2005, ele colheu, em uma área de 15 mil hectares, 40 mil toneladas de algodão em caroço, o equivalente a cerca de 2% da produção brasileira. Traduzindo: Wander de Souza produz, sozinho, algodão suficiente para fabricar algo como 30 milhões de camisas masculinas.

Tais atributos tornaram este agricultor nascido em Rio Verde, no sudoeste de Goiás, uma das figuras mais influentes do universo do agronegócio. Souza, claro, enriqueceu. Comprou aviões – entre eles, um jatinho Citation Mustang avaliado em US$ 2 milhões –, construiu uma mansão com lago particular onde costuma andar de jet ski, investiu na modernização de suas fazendas, que estão entre as mais atualizadas e produtivas do País.

Até pouco tempo atrás, exibia seu sucesso com orgulho. Mas denúncias divulgadas pela imprensa de que teria utilizado mão-de-obra escrava o tornaram mais contido. Embora ainda continue vaidoso, hoje evita falar de bens pessoais, tampouco se deixa fotografar em casa. “Sou um trabalhador e ninguém tem nada a ver com a minha vida pessoal”, afirma Souza. Ele garante que hoje a situação trabalhista de seus 350 funcionários está regularizada.

Essa recém-adquirida discrição, no entanto, não o impede de aparecer nas festas e eventos em geral sempre acompanhado de belas mulheres. Solteiro aos 51 anos, tem a fama de ser um bon vivant.

Filho de agricultores, sempre lidou com lavoura. Começou plantando arroz, partiu para o milho e acabou investindo em algodão, numa época em que a região não tinha tradição nessa cultura. Hoje, também é um grande produtor de soja (tem 15 mil hectares plantados) e arroz (10 mil hectares), que continua sendo uma de suas especialidades.

No sudoeste de Goiás, Souza é um mito. Foi eleito prefeito de Acreúna pelo PMDB duas vezes, o que serviu para despertou sua ambição política. Já cogita, inclusive, sair candidato a senador por Goiás. Segundo amigos, seu grande objetivo é ser governador do Estado, a exemplo do que fez o rei da soja Blairo Maggi, em Mato Grosso.

Souza tem importantes ligações políticas. Quase a totalidade de sua produção de algodão é vendida à Coteminas, empresa do vice-presidente da República José Alencar. Também é muito próximo do deputado federal Ronaldo Caiado, um dos líderes da bancada ruralista no Congresso Nacional. Como a maioria dos agricultores locais, se diz indignado com a política agrícola do governo Lula e com a escassez de crédito para os grandes produtores. “Fomos negligenciados pelo governo federal”, afirma.

Hoje, seu principal projeto é o biodiesel. Em 2002, adquiriu terras em São Félix, em Mato Grosso, onde pretende investir nessa nova área. “Tenho espírito desbravador e inquieto”, diz Souza. “Ninguém me tira da cabeça que o biodiesel provocará uma revolução neste País”.

Sim, Souza tem o discurso político bem afinado, apesar da voz baixa e da maneira quase tímida de falar. É mesmo surpreendente esse rei do algodão.