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Índice Consecana deve ficar em 6%

Acordo será assinado até o final do mês. Com nova fórmula, tonelada da cana fica em R$ 40. Usineiros e produtores de cana-de-açúcar de São Paulo devem assinar até o final do mês o acordo sobre o reajuste dos preços pagos pela cana-de-açúcar. Com a nova fórmula, o preço da tonelada deve saltar para cerca de R$ 40, preço 14% maior que o pago na safra passada, que foi de R$ 35.

O acordo é produto de quase seis meses de negociação, na qual até mesmo o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, ameaçou intervir. Está em jogo um setor que fatura R$ 40 bilhões e envolve 12 mil produtores de cana somente no estado de São Paulo, o maior produtor brasileiro. O acordo fechado em São Paulo deve servir de referência para os que estão sendo negociados em outros estados produtores, como Paraná e Alagoas.

Fórmula complexa

O preço de R$ 40 é resultado de uma complexa fórmula de cálculo, definida pelo Conselho dos Produtores de Cana, Açúcar e Álcool do Estado de São Paulo (Consecana). Ela inclui modelos econométricos e leva em consideração quanto da safra foi moída em açúcar e em álcool, qual foi o mix de exportação, a produtividade das lavouras, perdas industriais e deficiências no processo de fermentação, entre outros.

Usinas e agricultores acertaram, extra-oficialmente, que o índice Consecana de reajuste será de 6%, que será aplicado sobre o valor pago pelo quilo do ATR (teor de sacarose) e sobre o conteúdo de ATR por cada tonelada de cana. Como estes dois itens estão inseridos na fórmula geral, resultam em um preço final que deve ficar próximo a R$ 40 a tonelada de cana, segundo Edson Ustulin, presidente da Comissão Nacional de Cana-de-Açúcar da Confederação Nacional de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA).

Ustulin faz a ressalva de que o índice Consecana de reajuste de 6% não é definitivo, mas é o mínimo que será pago ao setor. Isso porque um dos componentes do valor está sendo analisado pela GV Consult. “Acreditamos que o índice de reajuste ficará em 6%, mas talvez seja maior, caso a consultoria encontre uma distorsão grande no cálculo”, afirma.

Procurados, a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) e a Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), envolvidos na negociação, não quiseram comentar o assunto.

O índice Consecana, revisado a cada cinco anos, é uma espécie de dissídio dos produtores de cana. Os plantadores produzem o equivalente a 25% da safra nacional e plantam, somente em São Paulo, 2,5 milhões de hectares.

A pressão dos produtores por preços melhores aumentou em razão do “boom” da cana-de-açúcar, alavancado pelos carros bicombustíveis e pela vitória brasileira contra os subsídios europeus ao açúcar na Organização Mundial do Comércio (OMC). No mercado internacional, a cotação do açúcar acumula alta de 33,5% nos últimos 12 meses na Bolsa de Nova York.

Governo intervém

Os plantadores pediam reajuste de 22% no índice Consecana. A contraproposta da indústria era de 6%. O impasse era tamanho que o próprio ministro, Roberto Rodrigues, cuja família produz cana na região de Guariba (SP), chegou a sugerir uma solução intermediária: 11%. Mas as indústrias não cederam. “É melhor um acordo ruim do que nenhum acordo. Por isso, os produtores resolveram aceitar a proposta da indústria”, diz Ustulin.

Se por um lado os produtores se dizem perdedores no acordo, o mesmo alega a indústria. “O reajuste ficou alto demais. Só posso garantir que poucas usinas têm margem de lucro suficientemente elevada para pagar esse valor”, diz um usineiro.

Para ele, isso pode estimular as usinas a aumentar ainda mais suas áreas próprias de plantio, em detrimento dos plantadores independentes.

De acordo com a CNA, a participação dos produtores vêm caindo nos últimos anos. Eles, que representavam 50% da safra há 15 anos, hoje produzem o equivalente a 25%.