O Protocolo de Kyoto, documento que rege as nações em torno de políticas ambientais sustentáveis, está modificando a vida no Japão e pode mudar a vida de Piracicaba até 2010. Responsáveis pela adição de 3% de álcool à gasolina, atualmente, os japoneses conheceram na cidade, na última sexta-feira (11), o que a Dedini Indústrias de Base pode oferecer para que a mistura de 10% aconteça de fato até 2008, prazo fechado pelo documento que, curiosamente, leva o país do sol nascente no nome. De 1,8 milhão de litros de álcool, será preciso contar com seis bilhões de litros do combustível cujas técnicas e produção o Brasil domina com excelência.
Liderada pelo embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, a maior autoridade daquele país em solo brasileiro; pelo cônsul do Japão em São Paulo, Katsumi Doi; pelo presidente do Clube Nipo-Brasileiro, Naoki Kawai; além de empresários, entre eles o presidente da Kawasaki do Brasil, Tsuneo Komaki, e outros representantes do governo japonês, a comitiva que passou pela cidade chegou às 10h30, recepcionada pelo deputado federal João Herrmann Neto (PDT).
Já na Dedini, o grupo acompanhou palestra de uma hora apresentada em inglês pelo vice-presidente de Operações da empresa, José Luiz Olivério. Embora tenham tido o paladar aguçado por Olivério, que lembrou o Brasil como o País da caipirinha, degustaram um almoço tipicamente oriental, à base de camarão empanado, além de sushi, sashimi e outras iguarias da culinária japonesa. Em seguida, percorreram os setores da empresa. À tarde, estiveram no Centro Canagro, onde foram recebidos pelo presidente da Cooperativa dos Plantadores de Cana (Coplacana), José Coral. Embora não tenham assinado papéis ou firmado parcerias definitivas, a comitiva sinalizou de maneira expressa o que quer do Brasil e, especificamente, de Piracicaba.
O interesse em adquirir parte do álcool produzido por aqui é evidente mas, antes que o acordo bilateral seja estabelecido, segundo Horimura, é preciso que as bombas de gasolina sejam readequadas, além de garantida a disposição das indústrias em aceitar o etanol.
À Gazeta, disse que a redução da emissão de carbono no Japão vai acontecer em primeiro lugar nas empresas. Num segundo momento, a redução deverá ser confirmada nas famílias, incentivando o uso de veículos denominados de ecologicamente corretos para, só então, chegar ao setor de transporte público. O governo, conforme reiterou o embaixador, deve incentivar esse consumo e oferecer boas condições de adesão ao setor privado.
Nos próximos dois meses, será realizada uma reunião com interessados no assunto e Piracicaba será lembrada, na oportunidade, como referência no assunto. A intenção é buscar corporações que incentivem a indústria e a agricultura brasileira voltada à cultura da cana-de-açúcar.
Para o presidente corporativo da Dedini, Tarcísio Mascarim, vale a pena Piracicaba e, conseqüentemente, o Brasil, ter boas esperanças em relação aos japoneses. “O Japão precisa do álcool e o Brasil pode ajudar”, reiterou. Olivério lembrou que para o Japão atingir com sucesso a marca de adição estabelecida pelo Protocolo de Kyoto, meta não assinada apenas pelos Estados Unidos, vai precisar de pelo menos 38 novas usinas, boa parte delas viabilizada pela Dedini.
Orçada em 80 milhões de dólares, de acordo como executivo piracicabano, cada uma estará preparada para produzir 200 milhões de litros de álcool ou 1 milhão por dia. A idéia é que o Japão financie as novas unidades, apostando em tecnologia e projetos genuinamente brasileiros. Os japoneses ficaram impressionados em conhecer o potencial da Dedini, responsável pela primeira planta brasileira de biodiesel a partir de sebo, com produção de 100 mil toneladas por ano.
O presidente da Coplacana, José Coral, disse que, em 1998, 45% da produção de cana-de-açúcar era voltada ao álcool combustível. Atualmente, são produzidos 51% para esse fim, com tendência de crescimento já confirmada.
O presidente da Câmara de Vereadores, Gustavo Herrmann (PSB), apresentou ao embaixador um dossiê em nome da Bioagri, empresa de Piracicaba, e representando a Associação deLaboratórios. No documento, Herrmann pede o fim das barreiras tarifárias impostas pelo Japão que impedem a venda de produtos brasileiros àquele país.
Nos dois últimos anos, a Bioagri, segundo Herrmann, teria perdido 100 funcionários por conta das restrições. Takahiko Horimura se comprometeu a agir favoravelmente ao Brasil.