A maioria dos assentados do Pontal do Paranapanema vive dividida entre uma certeza e uma incerteza. A certeza é a posse da terra, a incerteza fica por conta de como usá-la de forma economicamente viável.
São 101 assentamentos com 5.484 famílias em toda a área do Pontal. Grande parte está fazendo 10 anos, após a forte onda de conflitos no início dos anos 90.
Enquanto acampados ainda esperam seus lotes, os novos proprietários buscam alternativas para melhorar a renda.
A principal reclamação é a falta de mercado para a produção.“ No ano passado, me ofereceram tão pouco pela mandioca que nem colhi. Pus o meu gado para pastar na área”, conta Mario Augusto dos Santos, assentado em um sítio de 21 hectares em Teodoro Sampaio.
Alguns preferem a agricultura. Guilherme Gomes Sobrinho, com 11 hectares no assentamento Che Guevara, em Mirante, diz que plantou feijão, milho e algodão na safra 2004/2005.
Seuobjetivo era repetir o resultado do ano anterior, quando faturou R$ 24 mil brutos. Mas ele diz que não conseguiu nem a metade e perdeu dinheiro. “Em 2004, o algodão estava valendo R$22aarroba.Nesteano,opreço era de R$ 9″, lembra.
O debate sobre a expansão da cana divide os agricultores.
Para alguns é uma alternativa, para outros, inviável. Sidnei Silverio, com11 hectaresno assentamento Antonio Conselheiro 2,emMirante, considera a cana uma cultura extensiva, que prejudica o ambiente. Ele prefere investir no café e na pecuária.
A Alcídia começou, há dois anos, uma parceria com os assentamentos próximos da usina na produção de cana. A empresa fornece a tecnologia, faza colheita e é avalista em um empréstimo no Banco do Brasil para o início do plantio.
Os assentados financiam pouco mais de R$ 14 mil, que é descontado em três parcelas anuais do pagamento feito pela usina.
Mario Augusto dos Santos é um dos que assinou contrato com a Alcídia. Plantou 2,5 alqueires (cerca 5 hectares) com cana. A primeira colheita foi este ano.“ Recebemos quatro parcelas de R$ 1.300,00,depois dos descontos.” Ele diz estar feliz como resultado. “É a única produção que temos contrato.” Uma vizinha do mesmo assentamento, Ilda Pereira dos Santos Augusto, já está no segundo ano de parceria e não gostou da experiência.
“Depoisque acabar esse contrato, nunca mais planto cana.” Ela diz que no ano passado recebeu quatro parcelas de R$ 790,00 mais um resíduo de R$ 700,00. Neste ano, o resultado foi muito ruim: quatro parcelas de R$ 240,00.
Ela reclama que a usina cobra caro pelos serviços prestados, como a colheita, e teme não conseguir pagar a última parcela do empréstimo em 2006.
Flávio Luiz Mazzaro de Freitas, estudante de agronomia na Esalq/USP e também assentado em Mirante do Paranapanema, fez um estudo sobre a cana.
Ele acredita que a cultura só terá chances de dar certo se os pequenos proprietários se organizarem em associações ou cooperativas.“ É preciso, primeiro, ajudar as pessoas a se associarem, assim elas poderiam negociar melhor sua produção.”