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Brasil busca reverter déficit com petróleo

Mesmo com todo o esforço exportador brasileiro, existem países com os quais o Brasil continua registrando déficit comercial. Nigéria, Iraque, Argélia, Arábia Saudita e demais países árabes, de onde o Brasil compra produtos derivados do petróleo, não compram o suficiente do País para cobrir as importações do combustível. Para reverter ou atenuar esse quadro, o governo tem investido para aumentar a venda para estes países este ano.

Embora as exportações brasileiras para a Argélia tenham saltado de US$ 44 milhões em 2001 para US$ 348 milhões no ano passado, elas continuam muito atrás das importações, que vêm se mantendo acima do patamar de US$ 1 bilhão desde 2000 até 2004. Este ano, até setembro, as compras de produtos da Argélia ultrapassam pela primeira vez os US$ 2 bilhões, faltando ainda computar os últimos três meses do ano.

Para estimular as exportações, entre os dias 20 e 22 de novembro, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic) promoverá uma missão comercial à Argélia. O intuito é “desenvolver oportunidades de negócios e de investimentos e aumentar as exportações brasileiras de forma a equilibrar o intercâmbio comercial, hoje nitidamente favorável aos argelinos”, destacou o ministério.

A missão será liderada pelo ministro Luiz Fernando Furlan e contará com a presença de autoridades e empresários brasileiros interessados em exportar seus produtos e serviços, incluindo os de engenharia, uma vez que o país possui uma grande demanda na área de infra-estrutura. Outros setores avaliados que demonstram grande potencial de inserção no mercado argelino são produtos alimentícios (açúcar, carne, biscoitos, chocolates, sucos), produtos farmacêuticos (genéricos), móveis, papel, autopeças e veículos automotores, eletrodomésticos, aço, material de construção e equipamentos para obras públicas, tecidos e calçados.

A Argélia é o segundo maior parceiro comercial do Brasil na África, atrás somente da Nigéria, e importante fornecedor de petróleo. “A população argelina possui um dos maiores poderes aquisitivos do continente africano. Os altos rendimentos provenientes da alta dos preços do petróleo têm contribuído para a manutenção de vantajosos saldos na balança comercial e atraído divisas para o país”, comenta o Mdic.

O país é o 9º principal fornecedor de produtos ao Brasil, porém figura somente na 45ª entre os maiores compradores de produtos brasileiros. Desde 1989 o Brasil possui déficit comercial com este país. O saldo negativo em 2004, por exemplo, ficou em US$ 1,5 bilhão e neste ano, somente até setembro, já acumula US$ 1,8 bilhão.

A pauta de exportações brasileiras para a Argélia é concentrada em três produtos, que representam 58% do comércio com esse país: açúcar, carnes de bovino congeladas e óleo de soja. Já no lado das compras, 98% do que o Brasil compra é petróleo e nafta para petroquímica, sendo que o primeiro responde por 83% do total importado. É por esse motivo que um dos principais objetivos da missão comercial é a diversificação de produtos.

Vendas ao Iraque

Recentemente, a Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) organizou uma feira na Jordânia para promover o comércio com o Iraque, cujo saldo comercial está negativo para o Brasil em US$ 262,7 milhões no acumulado até setembro deste ano. As importações apresentaram queda de 26,4% sobre igual período de 2004, porém as exportações caíram muito mais, cerca de 57,3%.

Durante o evento, o governo brasileiro levou a proposta de trocar petróleo por alimentos, equipamentos agrícolas, equipamento médico-hospitalar, calçados, confecções, bebidas e aviões. Bem recebida pelas autoridades iraquianas, a proposta deverá ser fechada em reunião com o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, na segunda quinzena de novembro.

“O Iraque está disposto a comprar US$ 1 bilhão em produtos brasileiros com a máxima urgência possível”, contou o presidente da Apex, Juan Quirós, que negociou a proposta com membros do governo iraquiano. “A idéia seria trocar pelo produto que mais importamos deles, o petróleo”, declarou.

De acordo com dados da Apex, as exportações brasileiras para o Iraque durante os primeiros sete meses de 2005 foram de apenas US$ 9 milhões, o que representou uma queda de 84,2% em relação ao mesmo período do ano anterior, quando o Brasil havia exportado US$ 57 milhões. “Nós perdemos contato com os compradores iraquianos nesse último ano. Nossas mercadorias chegam por intermédio de trading companies. Queremos voltar a vender direto para o comprador”, declarou Quirós.

Negociação com a Nigéria

Em agosto o Ministério do Desenvolvimento organizou uma missão à Nigéria. Além das empresas governamentais, como Banco do Brasil , Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras e Eletrobrás , a comitiva brasileira contou com a presença da Associação Brasileira da Industria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Fiat , Laticínios Piracanjuba , Engepar Engenharia , Construtora Andrade Gutierrez , entre outras.

O comércio entre os dois países vem crescendo a cada ano. Nos últimos sete anos, a corrente de comércio (soma de exportação e importação) passou de US$ 769 milhões, em 1997, para US$ 4 bilhões, no ano passado. Somente entre 2003 e 2004, o crescimento da corrente de comércio entre os dois países foi de 101%. Porém, sempre negativa para o Brasil. Este ano, o saldo deficitário chegou a US$ 1,14 bilhão até setembro. Em 2004, o saldo negativo foi de US$ 2,99 bilhões. Hoje, a Nigéria representa 4,5% da importação total brasileira e 0,5% do que o país exporta.

Ainda por fazer

No caso da Arábia Saudita, um dos principais compradores de carne bovina brasileira, tem saldo deficitário com o Brasil da ordem de US$ 153 milhões. Desde o início da série histórica da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), que data de 1983, o Brasil nunca registrou um saldo positivo sequer com a Arábia Saudita. No entanto, ainda não está prevista nenhuma viagem comercial para o país este ano.