O bom desempenho dos setores de carne bovina e cana-de-açúcar eram no começo do ano as duas grandes apostas do agronegócio paulista. No entanto, o entusiasmo de criadores e donos de frigoríficos acabou sendo esfriado nas ultimas semanas com o aparecimento de focos de aftosa no Mato Grosso do Sul. Em compensação, usineiros e plantadores de cana comemoram por estarem em uma situação que vai além das previsões mais otimistas.
Na última sexta-feira de outubro, a Organização Mundial de Comércio (OMC) fez um anuncio que só fez crescer a euforia do setor canavieiro. Foi determinado um prazo que vai até o dia 22 de maio do próximo ano para que a União Européia retire seus subsídios ao açúcar exportado. Assim, espera-se um crescimento próximo a US$ 500 milhões nas exportações de açúcar brasileiro. Como 150 das 340 usinas cadastradas no Ministério da Agricultura são paulistas, São Paulo será o estado mais beneficiado por essa decisão.
Somado a isso, a venda de carros “flex” supera todas as expectativas. Atualmente, cerca de 50% dos veículos novos são comercializados com o motor que pode ser movido a gasolina ou a álcool.
Esse panorama, com boas perspectivas tanto no mercado interno quanto externo, só foi alcançado recentemente em razão de um reposicionamento dos empresários e agricultores envolvidos com o setor. Até o final dos anos 90, eles eram apontados como oportunistas, poluentes, latifundiários e caloteiros. Os adjetivos surgiram durante a época do Proálcool, mas que hoje não se encaixam mais com o setor, um dos mais modernos e profissionais do agronegócio nacional.
As mudanças começaram com a conscientização da necessidade de capacitação dos funcionários das usinas, adequação às restrições ambientais e investimentos em tecnologia. “Atualmente, não há pais nenhum no mundo que supere o grau de modernização e produtividade do Brasil no setor”, afirmou o coordenador-adjunto Programa de Estudos do Negócios do Sistema Agroindustrial da FIA/USP (PENSA), Marco Fava Neves.
Fusões e aquisições – Em conseqüência da consolidação desse mercado, está sendo intensificado o processo de fusões e aquisições entre as usinas de cana. O último negócio do gênero em São Paulo foi fechado em outubro. O grupo Cosan e a trading S/A Fluxo compraram em sociedade a Açucareira Corona, dona das usinas Bonfim, em Guariba, e Tamoios, em Araraquara.
O grupo paulista Cosan é o segundo maior em faturamento, que deve chegar a cerca de R$ 2,5 bilhões em 2005. A líder é a também paulista Copersucar, uma cooperativa que reúne 30 usinas de açúcar e álcool e tem um faturamento próximo de R$ 4,5 bilhões.
Investimentos – Aproveitando as boas perspectivas, os investimentos em novas unidades de processamento de cana aumentam no estado. Atualmente, há cerca de 30 novas usinas sendo construídas. A região de Araçatuba desponta como a nova área de exploração do setor canavieiro.
Já para a próxima safra, que é iniciada em maio do próximo ano, 19 novas usinas devem entrar em operação no País. Essas novas unidades devem ajudar com um acréscimo na produção nacional de 15 milhões de toneladas de cana. Para a safra em andamento (2005/06) a expectativa é de que sejam moídas 406,2 milhões de toneladas de cana para a produção de açúcar e álcool. Só em São Paulo deverão ser moídas 240 toneladas de cana, valor equivalente a safra de todo o Brasil de 2001/2002.
Bons números – A receita do setor, que gera empregos para 1,1 milhão de pessoas, deve atingir R$ 22 bilhões. A exportação de açúcar será de 17,2 milhões de toneladas, equivalente a US$ 3,96 bilhões; e o álcool, de 2,53 bilhoes de litros, o que representa US$ 760 milhões.
Os bons números do negócio já atraem também a atenção de empresários estrangeiros. “Há alguns australianos e americanos sondando. Mas a participação de não-brasileiros no setor ainda é pequena: representam menos de 5%. Isso mostra o quanto o período de crescimento esta só começando”, comentou o diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues.
De acordo com o diretor geral da consultoria Datagro, Plínio Nastari, o açúcar continua sendo o produto que proporciona maiores lucros aos empresários da área. No entanto, é o álcool o produto que tem mais chances de alcançar novos mercados. Isso graças, principalmente, aos elevados preços do petróleo e ao sucesso dos carros bicombustíveis.
A safra deste ano já mostra uma tendência pelo incremento na geração de álcool. As usinas estimam produzir 10% de álcool a mais que em 2004.
Além do álcool e do açúcar, há grandes avanços na geração de energia com o uso do bagaço do cana. Já existem usinas de médio e grande porte com capacidade de abastecer uma cidade de 40 mil habitantes. O negócio ajuda a solucionar o fantasma da falta de energia que ronda o estado desde os tempos do “apagão” e está sendo considerado uma vantagem a mais na criação de crédito de carbono.
E assim a imagem atrasada do setor dos tempos do Proálcool está sendo definitivamente enterrada.