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Cana: geração 2005 será OGM, tolerante à seca e mecanizável

As variedades de cana-de-açúcar lançadas em 2015 ou 2016, e que começam a ser desenvolvidas agora – ou seja, as da “geração 2005” – serão extremamente resistentes à seca, aos solos pobres, desenvolvidas para a colheita mecanizada. Diferentemente das atuais, muitas dessas variedades serão transgênicas, ou geneticamente modificadas (OGMs).

“Não há dúvidas de que a transgenia fará parte da cultura da cana-de-açúcar, principalmente para obtermos resistências às pragas e podermos ampliar o teor de sacarose, o que é fundamental no processo industrial”, afirmou Marcos Landell, diretor do Centro de Pesquisa Tecnológica do Agronegócio de Cana do Instituto Agronômico (IAC), responsável por coordenar a equipe que cria as novas variedades da cultura na instituição de pesquisa.

Há 11 anos, quando qualquer pesquisador e geneticista imaginava desenvolver uma nova variedade de cana-de-açúcar a colheita mecanizada da cultura ainda engatinhava no Brasil, o Oeste de São Paulo ainda era ocupado com vastas pastagens, e os grãos avançavam sobre Cerrado. Entre as quatro novas variedades lançadas hoje pelo IAC, em Sertãozinho (SP), duas são rústicas, se desenvolvem nos solos mais pobres como os das áreas de expansão dos canaviais de São Paulo no Cerrado, e todas têm porte ereto, o que facilita a colheita mecanizada. Elas começaram a ser pesquisadas entre 1993 e 1994.

“Realmente o geneticista tem de ser um especialista em avaliar um cenário futuro, pois novas variedades demoram dez anos para serem apresentadas”, disse Landell. O presidente da Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil (Orplana), Manoel Ortolan, defende que as alterações genéticas na cana-de-açúcar devam ainda reduzir a aplicação de defensivos agrícolas, reduzindo o impacto ao meio ambiente e ao bolso do produtor, com a redução nos custos. “São práticas bem-vindas pelo produtor e perfeitamente possíveis de serem assimiladas”, disse Ortolan.

Os pesquisadores afirmam que a vantagem da cana transgênica sobre a soja, por exemplo, está no fato de o açúcar e o álcool produzidos a partir dela não apresentarem traços de transgenia, por serem moléculas puras, ao contrário da oleaginosa, cujo grão tem uma “sopa de proteínas”, inclusive a transgênica.

Para discutir a cana geneticamente modificada, técnicos e cientistas irão se reunir em Piracicaba (SP), entre 17 e 18 de novembro, no Simpósio sobre Biotecnologia na Cana-de-Açúcar. No primeiro dia serão avaliados os aspectos técnicos da cultura geneticamente modificada e, no segundo, os entraves legais, econômicos e ambientais. Informações sobre o evento estão no site da Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (www.fealq.org.br).

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