Olivier Gibelin balança um copo de vinho tinto, sente o aroma e degusta, em meio aos barris de 4,5m de altura nesta rústica vinícola de pedra em Vauvert. Você quer provar aquilo que vai para seu tanque?, pergunta, pesaroso. Se meu avô experimentasse o que estou transformando em álcool, iria se revirar no túmulo. O excesso mundial de vinho atingiu um grau tão alto que, pela primeira vez na História, a França está destilando alguns de seus melhores vinhos para transformálos em combustível. É uma tarefa dolorosa numa terra onde a vinicultura é uma questão de paixão e o fruto desse trabalho é celebrado como qualquer outra arte.
A França tem transformado periodicamente oceanos de vinho de mesa de qualidade inferior em vinagre e etanol. Mas garrafas de vinho francês superior estão se empilhando nas prateleiras dos supermercados e adegas de vinícolas.
No início do ano, enquanto alguns vinicultores protestavam contra os preços baixos, a França pediu que a União Européia (UE) aprovasse a destilação de 150 milhões de litros dos vinhos de Denominação de Origem Controlada do país. Até o fim do ano, 100 milhões de litros terão se transformado em etanol.
A gasolina francesa já contém cerca de 1% de etanol, a maior parte destilada de beterrabas. Essa porcentagem precisa chegar a 5,75% até 2010 para atender às exigências da UE.
A convergência de dois fatores levou ao excesso: novos produtores em países como Austrália e Chile e a queda da demanda em lugares como a França, onde uma campanha contra a embriaguez ao volante moderou o tradicional consumo no almoço e no jantar.