Após quatro meses consecutivos em expansão, a produção industrial recuou em julho e registrou retração de 2,5% em comparação a junho. O índice, divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), representa o maior recuo desde dezembro de 2002, quando caiu 2,7%.
Apesar de esperada, a retração -que foi generalizada entre os setores- ficou ao menos 1,5 ponto percentual acima das projeções do mercado, entre -0,4% e -1%.
Com a queda de 2,5%, já considerados ajustes sazonais, o crescimento acumulado no ano está em 4,3%, abaixo dos 5,0% registrados ao fim do primeiro semestre. O acumulado dos últimos 12 meses até julho ficou em 5,8%, também inferior aos 6,7% até junho.
Essa queda no ritmo, que indica uma trajetória de desaceleração, é sentida ainda quando se compara julho deste ano ao mesmo mês de 2004: uma expansão de 0,5%, a menor desde setembro de 2003. Mas o IBGE ressalva que neste ano o mês de julho teve um dia útil a menos do que em 2004.
Segundo a economista Isabela Nunes, da Coordenação da Indústria do IBGE, o resultado de julho não chega a inverter a trajetória de alta do índice de média móvel trimestral, que apontava crescimento desde abril, mas já sinaliza uma estabilidade. O índice variou apenas 0,2% em julho.
Nunes destaca a retração generalizada na produção. Em 20 dos 23 setores pesquisados houve queda, e, pela ótica de categorias de uso, todas apresentaram taxas negativas. “Os maiores impactos foram em duas atividades que vinham crescendo muito: veículos e material eletrônico e equipamentos de comunicações.”
A indústria de veículos teve uma retração de 4,6%, após uma expansão de 8,3% entre maio e junho. Já a de material eletrônico e de equipamento de comunicação recuou 10,7%, depois da alta de 32,3% entre fevereiro e junho. Outro setor que teve uma retração significativa foi o de máquinas e equipamentos (-5,7%). Dos 23 setores, apenas o de refino de petróleo e produção de álcool (2,6%), o farmacêutico (4,2%) e o de celulose e papel (1,7%) tiveram altas.
Por categorias de uso, os setores de bens de capital (-7,6%) e de bens de consumo duráveis (-5,9%) foram os que tiveram maior redução, depois de dois meses de expansão.
“Como justamente as maiores retrações ocorreram nos setores que vinham crescendo mais, o fato indica um ajuste nos estoques”, explicou Nunes. Além disso, diz, existe uma cautela maior, justificada principalmente pelos resultados das últimas sondagens, que mostram expectativas mais deterioradas dos agentes econômicos.
Guilherme Maia, da consultoria Tendências, afirmou que a retração foi bem acentuada, generalizada e assustou o mercado. “Os fatores já eram esperados, mas não a intensidade da retração.”
Nos setores de bens de consumo duráveis e de bens de capital, puxados pelas exportações e pelo crédito, já era previsto um ajuste, um crescimento menor, mas não uma queda, disse Maia. No quesito cautela, também havia indicações de que os produtores estariam mais conservadores na formação de estoques. “Mas isso é difícil de mensurar”, avaliou.
Juros
A produção industrial é um dos indícios de que a atividade econômica crescerá menos no terceiro trimestre deste ano. Mas isso, na opinião do economista Guilherme Maia, não fará com que o Banco Central seja mais ousado em possíveis reduções nos juros.
Ele justifica com a retração observada em bens de capital e na construção civil, o que indica um cenário pior para os investimentos. Segundo Maia, essa análise deve influenciar negativamente na decisão do BC, porque o crescimento da economia com menos investimentos pode gerar preocupação com o risco inflacionário. “O BC é conservador, e as suas atas ressaltam o objetivo de assegurar a convergência da inflação para a meta, em 2006.”