Objetivo da Aeronáutica com o motor a etanol é converter a frota de T-25 da FAB. O Centro Técnico Aeroespacial (CTA) está finalizando o processo de certificação do primeiro avião militar a álcool do mundo, o T-25, modelo de treinamento básico de pilotos da Força Aérea Brasileira (FAB). Segundo o gerente do Projeto do Motor Aeronáutico a Álcool, Paulo Sérgio Ewald, a previsão é que até o final de outubro o CTA esteja pronto para testes em vôo com a versão a álcool do T-25, também conhecido pelo nome Universal. Detalhes do projeto foram mostrados ontem no Primeiro Seminário sobre o Uso do Álcool Etílico como Combustível Aeronáutico – Oportunidades e Perspectivas -, que se estende até hoje no CTA.
O objetivo inicial da Aeronáutica com o projeto do motor a álcool, diz o pesquisador, é viabilizar a conversão de toda a frota de T-25 da FAB, hoje estimada em 100 aeronaves. O Comando da Aeronáutica também já solicitou ao CTA que as pesquisas nessa área incluam a possibilidade de o Brasil exportar a tecnologia do motor e o combustível para outros países do mundo.
A Indústria Aeronáutica Neiva, subsidiária da Embraer, também desenvolveu uma versão a álcool do avião agrícola Ipanema, o primeiro do mundo nessa categoria. O projeto do motor a álcool do CTA, iniciado nos anos 80, foi retomado no ano passado após 10 anos de interrupção por falta de recursos. A versão a álcool do Ipanema teve como base projeto do CTA aperfeiçoado pela Neiva.
A Aeronáutica quer ainda estender a tecnologia do motor a álcool para a frota de 12 mil aeronaves a pistão em operação no País. O alto custo da gasolina de aviação, segundo Ewald, tem inviabilizado a operação dessas aeronaves e estimulado a conversão irregular de motores a gasolina para álcool. “A nossa estimativa é que 600 aeronaves, que representam metade da frota de aviões agrícolas do país, operem hoje com motor a álcool irregular”, afirmou.
O pesquisador do CTA diz que o futuro da aviação geral no Brasil passa pelo uso do álcool, que apresenta inúmeras vantagens em relação a gasolina. Além do custo baixo (26% menor que a gasolina de aviação), o álcool também permite aumento de 5% na potência do motor da aeronave. Apesar do consumo do motor aeronáutico a álcool ser 30% maior que o motor a pistão a gasolina , sua utilização ainda compensa, principalmente pelos custos, segundo Ewald.
Segundo o gerente comercial da Neiva, Luiz Fabiano Zaccarelli, a empresa recebeu um total de 130 pedidos de conversão somente para este ano. “Num prazo de três a quatro anos esperamos converter um total de 600 aviões para o motor a álcool”, disse. O custo de uma conversão, segundo ele, gira em torno de US$ 24 mil a US$ 27 mil, dependendo do número de série da aeronave, mas o retorno do investimento se paga em menos de um ano. “As vantagens para o proprietário da aeronave incluem uma redução de US$ 2,5 mil no custo operacional por avião/ano, além do aumento na potência disponível do motor e também do ciclo de manutenção”, explica.
Do ponto de vista dos benefícios para o País, o gerente destaca a redução do consumo de 16,8 milhões de litros de gasolina de aviação por ano e a geração de uma demanda anual de 21,6 milhões de litros de álcool. “Os operadores dessas aeronaves também ganham com a redução de US$ 14 milhões por ano no custo operacional da frota de aviões Ipanema”, afirma. O valor, segundo o gerente, é equivalente ao faturamento anual da Neiva. A empresa prevê fechar 2005 com um total de 52 aviões entregues. No ano passado a Neiva entregou 70 aeronaves Ipanema.