A produção de açúcar e álcool atrai investidores brasileiros e estrangeiros. Boa parte dos agentes do mundo do negócios está atenta às movimentações do setor. Até julho, esse interesse se traduziu em R$ 1,08 bilhão em investimentos no setor, 73,9% mais do que em igual período do ano passado, segundo acompanhamento feito pela empresa de consultoria Deloitte Touche Tohmatsu. São recursos aplicados em expansão, reformulação e implantação de usinas. Não estão incluídas nessas cifras as aquisições, cujos valores das operações geralmente não são revelados.
Esse total, segundo o sócio responsável pelo segmento de fusões e aquisições da Deloitte, Antonio Caggiano Filho, é modesto se considerado o potencial do setor. Empresas de várias origens, do ramo de açúcar e álcool ou simples investidores, como fundos de investimentos, buscam informações sobre as oportunidades que o setor proporciona. Mas raramente esse interesse se transforma em negócios pelas condições administrativas precárias de um número significativo de empresas brasileiras do setor sucroalcooleiro. Há pendências de toda ordem, mas especialmente fiscais, o que tem o poder de desvalorizar os ativos dessas empresas.
O sucesso que o setor faz entre os investidores estrangeiros assusta os empresários brasileiros. Para o usineiro Maurilio Biagi Filho, a desnacionalização é um risco para o setor. O gerente da Deloitte, Luis Vasco Elias, explica que a abertura para os investidores, estrangeiros ou não, é saudável e deve ser interpretada como um meio bom e barato para se obter recursos para crescer. Para ele, a melhor forma de se receber novos sócios é por meio das bolsas de valores.
Mas para isso, os usineiros teriam de se submeter a uma profunda reorganização das suas empresas, o que passaria pela profissionalização administrativa, o que inclui a implantação de um sistema de governança corporativa. Outra providência é um rigoroso acerto de contas com o fisco, uma vez que um passivo fiscal elevado pode representar a inviabilização de qualquer negócio. “Nenhum investidor assumiria o risco de participar de uma empresa cuja contabilidade não corresponde à realidade das suas atividades”, afirma Elias.
O interesse dos investidores pelo setor e a necessidade de se reorganizar as empresas será o tema da palestra que os especialistas da Deloitte farão amanhã na sessão de abertura da Simpósio Internacional e Mostra de Tecnologia da Agroindústria Sucroalcooleira – Simtec, em Piracicaba (SP). A audiência não poderia ser a mais adequada. Segundo o diretor da Deloitte, Reinaldo Grasson de Oliveira, cerca de um terço das empresas desse ramo de atividade são familiares. Algumas delas têm mais de 60 acionistas, que são na realidade descendentes de seu fundador, avô ou bisavô dos atuais dirigentes dessas empresas. “O conflito de interesses é imenso. Alguns desses acionistas trabalham nas empresas, outros apenas cobram dividendos”.
“Quem não tomar as providências necessárias perderá o bonde da história”, prevê Caggiano. Sem a reestruturação ampla, diz o consultor, as empresas deixar de criar oportunidades indispensáveis para crescer, moderniza-se e, com isso, poder atender à expansão do mercado, cujo potencial ainda não pôde ser dimensionado.