A safra 2005/06 está em pleno vapor e várias estimativas para a produção de açúcar e álcool já foram divulgadas. O mercado tem uma noção mais ou menos precisa do quanto será produzido de matéria-prima e seus derivados e a demanda pelos produtos nos mercados interno e externo.
No entanto, o produtor ainda vive a incerteza do preço que será pago pela cana-de-açúcar, o que acaba prejudicando o planejamento da próxima safra no que se refere à contratação de serviços, financiamentos, compra de insumos.
A impressão que se tem é de que há um claro descompasso entre o nível de remuneração entre os diferentes elos do setor sucroalcooleiro, claramente observado a partir da safra 2004/05.
No ano passado, enquanto as exportações de álcool triplicaram e o mercado interno apresentou um aquecimento considerável, os produtores de cana-de-açúcar tiveram de arcar com aumento nos custos de produção e o preço obtido pela matéria-prima mal cobriu as despesas. Neste ano, o rumo poderá ser o mesmo, caso não haja acordo sobre a atualização do modelo Consecana_ que serve de base para o pagamento da matéria-prima pela indústria.
O Consecana entrou em vigor em 1998 e, por esse sistema, o cálculo é feito com base no quilo médio da ATR (açúcar total recuperável). Esse índice, determinado mensalmente, leva em conta a qualidade da cana, o mix de produção das usinas e os preços alcançados pelos produtos açúcar e álcool nos mercados interno e externo. Para o processo de revisão, a Orplana (Organização dos Plantadores de Cana da Região Centro-Sul do Brasil) e a Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) contrataram empresas diferentes para a elaboração de um estudo que aponte os custos de produção da cana, açúcar e álcool.
Os dois levantamentos deverão estar finalizados por estes dias. Depois disso, serão apresentados e discutidos internamente e, posteriormente, entre os produtores e a indústria. O objetivo é que a discussão seja finalizada até julho e os novos parâmetros serão retroativos ao início desta safra, evitando possíveis perdas aos produtores, conforme acordo firmado entre a Orplana e a Unica.
O sistema Consecana foi criado há algum tempo, quando o cenário para o setor era diferente e a tecnologia para a produção também era outra, com menor eficiência e maior índice de perdas. A revisão do sistema irá permitir que cada uma das partes seja remunerada de acordo com os investimentos realizados e também que o degrau existente entre esses dois elos, que são os produtores e a indústria, possa ser nivelado.
O conceito de cadeia de produção requer a existência de uma relação de equivalência entre os elos do agronegócio. O bom momento do setor também deve ser sentido pelos produtores de cana. A ausência de um sistema mais justo de remuneração pode comprometer a produção. E sem matéria-prima, o agronegócio sucroalcooleiro não se consolida.