Fornecedores de cana-de-açúcar do Nordeste encaminharam, através da União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida), uma carta ao presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de expor para o governo federal a grave crise enfrentada pelo setor. No documento – apresentado oficialmente no último dia 20, durante evento realizado no engenho Campina Nova, no município pernambucano de Água Preta, e que reuniu mais de mil pessoas – , os produtores solicitam providências urgentes a fim de evitar um colapso no segmento sucroalcooleiro.
Eles também reivindicam um tratamento diferenciado por parte do governo federal, para que se diminuam as desigualdades econômicas e sociais existentes em relação aos Estados do Centro-Sul do País. O principal pleito dos fornecedores é a retomada do pagamento da equalização.
Promovido pela Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP), o evento ocorrido em Pernambuco foi organizado pela Unida e contou com a participação de autoridades de praticamente todos os Estados da região. Na ocasião, o governador da Paraíba, Cássio Cunha Lima, foi representado pelo secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Francisco de Assis Quintans. “Esta reunião não é contra ninguém.
Queremos pedir ao governo federal que ele preste mais atenção ao Nordeste, pois o setor canavieiro está passando por dificuldades e é preciso que seja retomado o processo de equalização. Queremos também que o Governo Federal socorra os Estados com dificuldades de crédito e tudo isso é importante que se diga ao presidente da República, pois Lula poderia tomar igual medida a que foi feita com relação aos Estados do Sul, liberando dinheiro para os produtores do Nordeste”, afirmou o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, durante o evento.
Jarbas também disse que o setor sucroalcooleiro nordestino precisa apelar à importância de dois políticos da região: Renan Calheiros, presidente do Senado, e Severino Cavalcanti, presidente da Câmara, para que as solicitações dos produtores cheguem melhor até o Executivo. “Tanto um como o outro não são estranhos ao segmento e é importante que esse movimento envolva essas duas pessoas – que têm compromisso com o setor e sempre estiveram ao lados dos produtores e dos trabalhadores”, destacou o governador pernambucano. Jarbas Vasconcelos encerrou seu discurso, ressaltando seu compromisso com a cultura canavieira. “Acredito no setor e só defendo aquilo em que acredito”.
O presidente da Asplan e vice-presidente da Unida, José Inácio de Morais, que participou do encontro junto com outros diretores da Associação, lembrou que diversas questões que têm comprometido o desenvolvimento do setor sucroalcooleiro na região Nordeste foram abordados na Carta enviada ao presidente Lula. Para ele, o lançamento do documento foi o pontapé inicial da mobilização dos produtores por um tratamento mais digno e igualitário por parte do Governo Federal.
“Produtores do Sul e Sudeste, em épocas de crise, sempre são socorridos com verbas federais. Queremos o mesmo tratamento e também que o segmento sucroalcooleiro do Nordeste seja tratado com o respeito que merece dada a importância que tem para a região. Congregamos mais de 20 mil pequenos e médios produtores canavieiros, cuja atividade produtiva está presente em 220 municípios do Nordeste, somando população afetada da ordem de 6 milhões de habitantes, portanto, é mais do que justo que olhem para nós com atenção e, principalmente, que nos seja dado o que nos é de direito, como o pagamento da equalização”, justificou José Inácio de Morais.
Já o presidente da Unida, Edgar Antunes, lembrou que o evento constituiu-se num grande momento histórico para os produtores de cana da região. “Estamos aqui reunidos com fornecedores de cana de todo o Nordeste para discutir a realidade do setor – um segmento que está sendo esquecido e desprestigiado. Há muito tempo temos falado em vão, mas, agora, tenho certeza, estamos inaugurando um novo tempo”, afirmou Antunes, aproveitando a ocasião para pedir ao governador Jarbas Vasconcelos que fosse o líder dos fornecedores nas reivindicações ao Governo Federal. “Há três anos, não é liberado nenhum tostão para o setor. Só temos a vontade de produzir e de fincar nossas raízes no Nordeste, pois isso queremos que o senhor assuma e defenda esta causa conosco”, apelo o dirigente.
O secretário estadual de Desenvolvimento Econômico, Francisco de Assis Quintans, afirmou que os agentes políticos, ele, inclusive, têm a obrigação de estar ao lado do setor sucroalcooleiro, principalmente nos momentos de crise, como o vivido atualmente pelos produtores devido à falta de chuvas na zona canavieira. Ele também disse que não apenas o governador Cássio Cunha Lima, mas todos os governadores do Nordeste deveriam se empenhar “integralmente e não parcialmente” em prol do setor.
TRECHO DA CARTA ENVIADA AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA:
“O Nordeste não pode ficar órfão e desprotegido, vendo o completo desmantelamento dos mecanismos que sempre implementaram a política compensatória que garantia a sobrevivência do Nordeste canavieiro, aliado a outros fatores adversos, tais como: a dificuldade de acesso às linhas de créditos agrícolas para o custeio e a renovação; a precariedade de nossas estradas e de nossa frota para o escoamento da produção; a falta de repasse dos créditos da Equalização retidos há três anos safra; e, finalmente, a seca que se instalou e continua a castigar a região, sempre carente de sistemas de irrigação de salvação, principalmente para o pequeno produtor, sem que haja a intervenção do Governo Federal, criando assim um ambiente de profunda insegurança e inquietação, prenunciando a tragédia que se configura com imprevisíveis conseqüências de natureza econômica e social para o nosso povo”.