A perspectiva de demanda aquecida para o álcool nos mercados interno e externo deve incentivar a concretização de novos projetos no setor sucroalcooleiro. A curto prazo, o País tem capacidade para manter-se como o principal fornecedor mundial de etanol, com exportações que representam 39,8% do comércio mundial do produto. Especialistas alertam, porém, que a construção de usinas e aumento da área plantada é fundamental para manter essa liderança até 2010.
No ano passado a produção brasileira de álcool foi recorde: 15,2 bilhões de litros, crescimento de 3,4% em relação aos 14,7 bilhões de litros produzidos em 2003. Este ano a estimativa é de que as usinas processem cerca 16,2 bilhões de litros o que, aliado aos bons preços previstos para o açúcar, deverá elevar o faturamento líquido do setor em 2004, estimado R$ 22 bilhões.
O diretor técnico da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), Antônio de Pádua Rodrigues, afirma que as usinas do Centro-Sul têm capacidade para produzir 16 bilhões de litros por ano e as do nordestes mais que 2 bilhões de litros, um total de 18 bilhões de litros.
O volume é suficiente para manter o ritmo das exportações neste ano e atender a demanda interna, estimulada pelo aumento da produção de veículos flex-fuel (ou bicombustíveis), mas Pádua estima que até 2010 a área plantada de cana-de-açúcar tenha que ser acrescida em 40% ou cerca de 160 milhões de toneladas além das atuais 380 milhões cultivadas.
A capacidade de atender a demanda dependerá da implementação de novas usinas. Hoje há 40 projetos prontos a serem executados entre 2005 e 2008, mas sua execução garante apenas 50% das necessidades futuras – diz Pádua. Cada um desses projetos, segundo a Unica, terá custo de pelo menos US$ 70 milhões e se somam às atuais 320 usinas de açúcar e álcool do Brasil. Os investimentos totais são estimados em cerca de US$ 3 bilhões.
Segundo o presidente das Usinas e Destilarias do Oeste Paulista (Udop), Luiz Guilherme Zancaner, há pelo menos 20 projetos firmes de construção ou reativação de usinas nas cidades de Presidente Prudente, Araçatuba e Rio Preto. “Esses projetos totalizam cerca de R$ 1,5 bilhão só na região do Oeste Paulista. Sua execução acontecerá nos próximos cinco anos, mas a velocidade dependerá das condições de mercado”, comenta ele, para quem o otimismo do setor é corroborado pelo crescimento da venda de carros bicombustíveis. “Neste ano a grande maioria das montadoras, à exceção das japonesas, vai aderir ao flex”, diz o executivo.
Além dos investimentos, o presidente da Datagro, Plínio Nastari, avalia que para que o uso do etanol continue se expandindo no mundo é preciso que ele seja reconhecido como um produto energético e não agrícola. “Há muito menos barreiras ao livre comércio para produtos como petróleo e gasolina do que para as commodities agrícolas. O álcool é um produto limpo e deveria ter um tratamento tarifário melhor que o de outros combustíveis”, observa.
A receita das exportações de álcool anidro e hidratado em 2004 foi de cerca de US$ 500 milhões, um volume de 2,47 bilhões de litros, equivalentes a 7,7% da oferta total de sacarose (açúcar e álcool) do País. Isto apesar de apenas 4 bilhões de litros dos 35 bilhões produzidos globalmente estarem livres à comercialização.O Brasil portanto está em posição privilegiadanocomércio mundial.
A participação dentro das exportações totais do setor ainda é pequena, mas já evoluiu. “Não vejo espaço para o Brasil crescer em termos de exportações de açúcar, onde já temos 40% do mercado mundial, por isso a aposta é o álcool. A safra 2005/2006 será mais alcooleira que açucareira”, diz Zancaner.
Levantamento da Datagro aponta que em 2004 a Índia foi o principal destino do álcool brasileiro. Graças à quebra de sua safra de açúcar o país recebeu 451,3 milhões de litros de etanol brasileiro, nível que deve se manter este ano. Em seguida vieram os Estados Unidos (418,6 milhões de litros), a Coréia do Sul (230,5 milhões de litros) e o Japão (196,8 milhões de litros).