Mercado

Brasil retoma a produção de açúcar

Tendência de safra de álcool é mantida, mas setor estima aumento de 22% de açúcar. O Brasil vai aumentar a produção de açúcar na safra 2003/04. Estimativas divulgadas ontem pela União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) apontam para uma produção de 23 milhões de toneladas, volume 27% maior que o indicado na estimativa realizada pela entidade no mês de junho. A produção de álcool também será maior, mas em volume sensivelmente inferior ao projetado no início da safra. Estimativas atuais apontam para uma safra de 13,6 bilhões de litros, volume 8% maior que o projetado em junho.

No entanto, ao invés dos 1,5 bilhão de litros adicionais previstos para a safra 03/04, deverá ocorrer um incremento na produção de 1 bilhão de litros, volume suficiente para atender o consumo do mercado interno até maio de 2004 e para um estoque de passagem da ordem de, no mínimo, 300 milhões de litros. Com isso, o setor sucroalcooleiro fechará a safra 2003/04 com a recomposição dos estoques de álcool e a garantia de que não haverá crise de abastecimento durante a próxima entressafra. Essa safra mais alcooleira será a primeira demonstração dos produtores ao Governo Federal de que o setor está colocando em prática a estratégia de retomar o mercado interno de álcool, que definhou nos anos 90.

A previsão de safra foi divulgada ontem no Recife, durante reunião do Fórum de Líderes da Agroindústria Canavieira do Brasil, sediado no Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçucar/PE). Os números, apresentados pela Unica, indicam que a região Centro-Sul deve encerrar a safra 03/04 com estoques de passagem entre 300 milhões e 423 milhões de litros.”Apesar de o governo não ter cumprido o compromisso de liberar o financiamento de R$ 500 milhões para o programa de estocagem de álcool, o setor honrou com sua palavra, antecipando a moagem para abastecer a safra, disponibilizando oferta adicional de álcool e monitorando a contenção dos preços”, diz Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica.

Demanda interna

Com o risco de escassez entre os meses de fevereiro e junho, a entidade se comprometeu com o governo a antecipar a safra para abril e garantir a produção de pelo menos 600 milhões de litros de álcool, com preços entre R$ 0,90 e R$ 1 para o álcool anidro e hidratado, respectivamente. “Nossa expectativa era de até o final da safra produzir 1,5 bilhão de litros adicionais de álcool na região Centro-Sul, mas o recuo no consumo de combustíveis fez com que a meta fosse revista para baixo em 33%, caindo para 1 bilhão de litros”.

O presidente da Unica diz que esperava um crescimento de 10% no consumo de álcool, mas até agosto a demanda permaneceu em níveis semelhantes aos do ano passado. Segundo informações da Agência Nacional de Petróleo (ANP), o consumo de gasolina tipo C (que usa 25% de álcool anidro) registrou queda de 10% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período de 2002.

Carvalho afirma que também não houve aumento das exportações de álcool para escoar o excedente de produção. “Apesar da prospecção de novos mercados, como por exemplo o Japão, os embarques do produto devem repetir a performance de 2002, com um volume de 600 milhões de litros”.Na avaliação do presidente do Sindicato da Indústria de Fabricação de Álcool do Paraná (Sialpar), Anísio Tormena, enquanto a abertura comercial para o açúcar no mercado internacional não acontece, a saída para o setor é apostar no álcool. “O produto cai suceder o petróleo na atualidade e precisamos garantir o abastecimento do mercado interno para alavancar o setor. Nem que para isso os produtores tenham que bancar o custo dos estoques sem a ajuda do governo”, destaca Tormenta.

Altos custos

O diretor da Jotapar Participações, José Pessoa de Queiroz Bisneto, calcula o custo financeiro para manter os estoques com recursos de bancos em cerca de 15% do valor da produção, enquanto com o financiamento do governo essa despesa poderia cair para 5%.

Pelas projeções da Unica, as exportações brasileiras de açúcar devem se manter estáveis este ano, acompanhando a estagnação do mercado internacional, que cresce à lenta velocidade de menos de 1% ao ano. As vendas externas da região Centro-Sul devem permanecer na casa das 11 milhões de toneladas. “Tentamos reduzir a política protecionista da Europa, Estados Unidos e Japão na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas há um longo caminho a percorrer”, observa Carvalho.

Com mais de 50% da moagem realizada no Centro-Sul, a Unica vai confirmando a previsão de moagem da ordem de 288 milhões de toneladas de cana-de-açúcar e uma oferta de Açúcar Total Recuperado por Produto (ATR) de 41,58 milhões de toneladas, praticamente idêntica a última divulgação de estimativa de safra em 16 de julho. Até 1 de agosto já foram colhidas 146,9 milhões de toneladas de cana para uma produção de 9,1 milhões de toneladas de açúcar e 6,1 bilhões de litros de álcool.

O Nordeste, que iniciou a safra em agosto, estima um discreto crescimento de 2% no volume de cana esmagada no período 2003/04, que deve chegar a 52,3 milhões de toneladas. O presidente do Sindaçúcar de Pernambuco, Renato Cunha, prevê que a produção de açúcar e álcool permaneça estável, com 3,8 milhões de toneladas e 1,5 bilhão de litros, respectivamente.

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