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Produtor argentino rejeita misturar álcool à gasolina

Está longe de ser fechado um acordo entre a Argentina e o Brasil capaz de encerrar a controvérsia entre os dois países no comércio de açúcar. Apesar da aparente boa vontade da Casa Rosada, a proposta do Palácio do Planalto de financiar a produção de álcool no país vizinho em troca da queda da tarifa de importação de 20% que incide sobre o açúcar brasileiro foi totalmente rechaçada pelos Produtors platinos.

“Não interessa à Argentina produzir álcool carburante. Também não vamos abrir mão de nossa produção de açúcar”, diz Jorge Zorreguieta, presidente do Centro Azucarero Argentino, entidade que representa as indústrias de açúcar do país. Zorreguieta é o principal articulador do setor junto ao governo.

Com uma produção de álcool estimada em 950 milhões de litros – o Brasil produz 15 bilhões de litros -, o produto é todo consumido pelas indústrias de bebidas e farmacêuticas argentinas. “Sabemos da eficiência brasileira em etanol. Mas também temos tecnologia para produzir álcool”, acrescenta Zorreguieta. A mistura de álcool na gasolina, segundo o executivo, foi aprovada em 12 províncias, mas, mesmo assim, não deslanchou. “Temos petróleo e investimos no gás como alternativa ao combustível”.

A proposta brasileira foi apresentada há um mês pelo ministro da Agricultura do Brasil, Roberto Rodrigues, ao seu colega argentino, Miguel Santiago Campos. Rodrigues sugeriu inclusive a abertura de uma linha de crédito do BNDES para financiar os vizinhos. Até o momento, porém, o banco não foi consultado por usinas argentinas interessadas.

Se depender dos produtores do país, dificilmente esses financiamentos sairão. Zorreguieta garante que não há qualquer pressão do governo argentino para que as usinas produzam mais álcool. E que também não há proposta de reduzirão da produção de açúcar.

Para o governo brasileiro, um acordo nesse sentido seria uma espécie de trégua. O açúcar é considerado um produto sensível no Mercosul e foi excluído das negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca) por imposição da Argentina. Com a decisão do Legislativo argentino de transformar a tarifa em lei, fechou-se mais uma vez o canal de discussão para um acordo. “Ainda manteremos nossa proposta”, diz Ângelo Bressan, diretor de Açúcar e Álcool do Ministério da Agricultura do Brasil. “O ideal seria resolver este problema por meio de um acordo bilateral”.

Com a produção concentrada em 23 usinas das Províncias de Jujuy, Salta e Tucumán, a oferta de açúcar na Argentina gira em torno de 1,6 milhão de toneladas. O volume é 14 vezes menor que a oferta anual brasileira, de 22 milhões de toneladas. “Temos custos competitivos [em torno de US$ 300 a tonelada]”, acredita Zorreguieta. Os custos brasileiros são os menores do mundo, em torno de US$ 160 a tonelada.

Para especialistas do setor, o álcool nunca deveria ter sido usado como moeda de troca para o fim das barreiras impostas pelo país vizinho. “O governo vai continuar protegendo a produção de açúcar.” Outro ponto é que os argentinos não têm o mesmo problema de poluição que o Brasil. “Isso justifica o uso do álcool como combustível.” As negociações, segundo a fonte, terão de ser concentradas no açúcar.

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