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Minas lança feira e prêmio para melhor cachaça

Evento começa hoje em Belo Horizonte e vai até domingo; participam 400 produtores de 10 estados brasileiros. No cenário de crescimento da produção e redução do preconceito em relação à bebida, Belo Horizonte vai sediar de hoje até o próximo domingo a sexta edição da Expocachaça – Feira Nacional e Internacional da Cachaça. O evento terá a participação de 400 produtores, de dez estados, responsáveis por 850 marcas. A feira também será palco para o lançamento do prêmio Anísio Santiago para a Cachaça de Qualidade, homenagem ao criador da antiga Havana, aguardente produzida no município de Salinas, no Norte de Minas.

Durante décadas, a cachaça foi considerada uma bebida marginal, consumida sobretudo pelas pessoas de menor poder aquisitivo. Hoje, porém, é produto com certificação de origem e servido em bares, restaurantes e hotéis sofisticados do País. Mais que isso, a aguardente já integra a pauta de exportações do Brasil.

O volume mineiro da cachaça certificada ainda é pequeno – 14 milhões de litros – ou 0,95% dos 1,5 bilhão de litros da produção nacional, entre aguardente industrial e as cachaças artesanais. Do total, Minas Gerais participa com 230 milhões de litros por ano, produzidos em 8,4 mil alambiques, 90% deles de micro e pequeno portes, conforme levantamentos do IBGE.

“O agronegócio da cachaça em Minas Gerais movimenta R$ 1,5 bilhão por ano e gera 300 mil empregos diretos e indiretos”, diz Luiz Cláudio Couri, presidente da Associação Mineira dos Produtores de Aguardente de Qualidade (Ampaq), entidade que reúne 115 sócios no estado, entre pessoas físicas e jurídicas.

“O prêmio, uma iniciativa do Instituto Brasileiro da Cachaça de Alambique e do Sistema Ampaq, tem por objetivo identificar no mercado da cachaça artesanal as empresas e profissionais que contribuem para o aprimoramento e promoção da cachaça”, assinala José Lúcio Vicente, sócio da Cachaças do Brasil e organizador da feira.

Outra atração da Expocachaça são as mesas redondas promovidas pela Rede Mineira de Tecnologia da Cachaça, coordenadas pelo professor Rogélio Brandão, Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). A rede, explica o empresário, é resultado do trabalho de pesquisadores mineiros interessados em temas relacionados à tecnologia da cachaça para consolidar Minas Gerais como centro nacional das tradições, conhecimentos, tecnologia e negócios e serviços de cachaça de alambique.

Uma característica da produção da cachaça artesanal em Minas Gerais é o desenvolvimento, simultaneamente, da atividade e de outros negócios vinculados à agropecuária. “A maioria dos produtores mantém, por exemplo, a criação de gado e o cultivo de milho, feijão, café”, salienta José Lúcio. Segundo ele, isso deve-se, sobretudo, ao fato de a cachaça não representar a única fonte de renda dos agricultores.

Nos últimos dez anos, alguns produtores aproveitam que os alambiques localizam-se em antigas fazendas e próximos a atrativos históricos e naturais para explorar, também, a atividade turística. “Além de divulgar o produto, o agricultor tem outra fonte de renda”, avalia José Lúcio.

O Grupo dos 13

Um total de treze produtores de cachaça artesanal de alta qualidade se prepara para entrar no mercado externo com a elaboração de um blend (mistura de todas as 13 marcas), batizado de Uai. A expectativa do grupo, que há dois anos criou a Associação Mineira das Empresas Exportadoras de Cachaça (Comec), é que a bebida seja consumida por italianos, portugueses e alemães, a partir de janeiro de 2004.

Para desenvolver o blend, cujo projeto será finalizado até o final deste ano, a Comec contou com o suporte de especialistas do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (Cefet-MG). O produto final será negociado exclusivamente no mercado externo com a marca Uai, já em processo de registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).

Enquanto aguarda o início das exportações, o grupo volta as atenções para o mercado interno com a contratação de quatro representantes comerciais em São Paulo. Com isso, a Comec estima alcançar um faturamento de R$ 200 mil neste semestre, resultado 150% maior que o registrado no mesmo período de 2002.

O montante corresponde a negociação de um total de 3,9 mil garrafas de aguardente. “Apesar de pequeno, é um volume bastante significativo em função de termos criado a associação para atender basicamente o mercado externo, mas o trabalho em grupo acabou abrindo novas possibilidades de negócios no Brasil”, afirma Márcio Vieira de Moura, presidente da Comec e fabricante da cachaça Rainha do Vale.

Segundo ele, as vendas no mercado interno são realizadas por intermédio da Abaeté Comércio e Distribuição de Bebidas, sediada em Belo Horizonte. “Na verdade, a empresa é um braço comercial da Comec e foi fundada por um dos nossos associados para negociar exclusivamente as 13 marcas no Brasil”, explica.

A perspectivas de crescimento do grupo no mercado interno só foi possível, comenta Moura, após a implantação de um sistema de gestão da qualidade, iniciado há dois anos. Para executar o projeto, a associação contou com R$ 50 mil em recursos, provenientes da Agência de Promoção de Exportações (Apex).

Os recursos foram utilizados para analisar e avaliar todas as etapas do processo de produção de cada um dos 13 alambiques. “O programa minimizou erros, aprimorou a qualidade dos produtos, além de nos mostrar que uma venda conjunta reduziria custos operacionais”, comenta Moura.

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