Sérgio Alves Torquato, pesquisador do IEA – Instituto de Economia Agrícola, em seu artigo “Conflitos e Propostas de Soluções: o comportamento do preço do álcool na entressafra canavieira”, explica que a recorrente forte pressão altista nos preços do etanol nos últimos meses, reforçou a necessidade da busca de soluções permanentes para mitigar os problemas decorrentes das grandes oscilações de preços e para resgatar a confiança do consumidor final.
Segundo o pesquisador, a questão não está calcada somente no ciclo natural de produtos agrícolas (de safra e entressafra), mas no descasamento entre oferta e demanda, no planejamento e coordenação tanto por parte do setor como do governo. “Essa persistência que contribuiu para que, nesta entressafra de 2011, novamente o preço do etanol no mercado interno tenha atingido níveis recordes, semelhante ao ocorrido na safra 2006/07”.
Ele lembra que na safra 2010/11 o preço do etanol hidratado aumentou 57,1% no período de junho a dezembro de 2010, e 47,3% entre dezembro de 2010 a março de 2011. Já o preço do álcool anidro teve crescimento da ordem de 50,1% para período de junho a dezembro de 2010, e 122% para o período dezembro de 2010 a abril de 2011.
“Considerando especificamente os períodos de safra e entressafra, esses percentuais para o etanol hidratado são de 45,8% e 28,2%, respectivamente, enquanto para o anidro são de 38,7% na safra e 43,1% na entressafra. Esses comportamentos vêm reforçar a tese de que o problema não está calcado somente nos ciclos de safra e entressafra. Devido ao fato do etanol e da gasolina serem substitutos perfeitos no mercado de combustíveis (em decorrência da tecnologia flex), a escalada de preços altos do etanol deteriorou a relação favorável de preços que existia e equilibrava os mercados desses produtos. Isso levou os proprietários de veículos a abastecerem com gasolina, o que resultou em grande crescimento de demanda com consequente aumento nos preços e saturação na oferta”, diz.
Torquato destaca que a demanda por combustíveis está intimamente ligada ao crescimento da economia e da renda. Em 2010, o Brasil registrou, segundo o IBGE, um crescimento de 7,5% do PIB. Além disso, as condições favoráveis de financiamento, redução no IPI, utilizado como mecanismo anticíclico à crise mundial recente, contribuíram para a expansão da frota nacional. Estes sinais claros advindos do mercado apontam que haveria desequilíbrio no mercado de combustíveis.
Para o pesquisador, os principais fundamentos das incertezas e oscilações ainda permanecem como baixa perspectiva de aumento da expansão da oferta de etanol no curto prazo, dificuldade no atendimento de demanda em expansão, preços favoráveis no mercado internacional do açúcar, safra 2011/12 novamente mais açucareira, ausência de política consolidada de regulação no setor e canaviais mais envelhecidos. “Esses problemas não resolvidos conduzem à postergação da situação por tempo indeterminado gerando incerteza tanto no mercado produtor quanto no consumidor. Assim, o momento não é de apontar culpados e nem de ações extremas, mas sim de buscar soluções sensatas em prol do Brasil e a favor de uma matriz energética cada vez mais limpa”, finaliza.