O memorando de entendimento sobre biocombustíveis assinado em 2007 pelo Brasil e os Estados Unidos vem avançando em suas propostas e já beneficia outros países da América Central. Essa é uma das principais preocupações do acordo: aumentar o número de países produtores de etanol e alcançar a internacionalização do consumo, necessária para que o produto se torne uma commodity global.
“Esse memorando abre oportunidades não apenas bilaterais para os dois países signatários, mas também para outras nações”, destacou André Amado, Subsecretário de Energia e Alta Tecnologia do Itamaraty, que participou do painel que discutiu a evolução desse acordo, dentro da programação do Ethanol Summit 2009. Para Clifford Sobel, Embaixador dos Estados Unidos no Brasil, que também participou do debate, o memorando deve avançar ainda mais nos próximos anos: “Trata-se de um processo, as mudanças não vão acontecer de um dia para o outro. Mas já temos resultados muito entusiasmantes”, complementou Sobel.
Entre os principais benefícios estão a disseminação do modelo de negócios criado no Brasil, a partir da cana-de-açúcar, que pode favorecer países emergentes, especialmente os localizados nos trópicos. “Já estamos realizando estudos de viabilidade e consultoria para a implantação de projetos de cana em Honduras e El Salvador. Há iniciativas semelhantes sendo conduzidas no Haiti, para a implantação de uma usina de biomassa que poderia elevar as atuais quatro horas de energia disponíveis no país para oito horas ou mais”, exemplificou César Cunha Campos, diretor executivo da FGV Projetos, da Fundação Getúlio Vargas.
Campos acrescentou que os projetos para fomentar o plantio da cana-de-açúcar e a utilização dos biocombustíveis impactam positivamente a economia dos países, com a geração de empregos, a diminuição da dependência de petróleo e das importações de combustível fóssil, criando a oportunidade de passarem a exportadores de etanol, além de contribuírem para melhorar a qualidade de vida da população. Atualmente, a entidade está empenhada em atrair investimentos para fomentar a indústria sucroenergética em El Salvador, informou o diretor da FGV Projetos.
“E podemos até mesmo pensar na recuperação da indústria sucroalcooleira de Cuba e na reinserção do pais na economia global com projetos desse tipo, dentro de 10 a 15 anos”, provocou Paulo Sotero, diretor do Instituto Brasil do Centro Woodrow Wilson em Washington, que foi o mediador do debate.
Os principais entraves para o avanço mais rápido desse acordo são as questões ligadas à propriedade intelectual, como destacou a especialista brasileira Helena Chum, que é pesquisadora do National Renewable Laboratory, do Departamento de Energia dos EUA. Segundo ela, a propriedade intelectual dos desenvolvimentos alcançados nas pesquisas ainda não está equacionada. Porém, há uma série de trabalhos científicos sendo conduzidos por entidades públicas e privadas, relativas ao uso indireto da terra, aos níveis de emissões de gases de efeito estufa, entre outros trabalhos.
“Estamos começando medições em várias usinas brasileiras e americanas para estabelecer padrões de análise laboratoriais para determinar a sustentabilidade do milho, da palha de milho, da cana-de-açúcar e do bagaço de cana, sendo que a palha de cana é bastante complicada de analisar, pois tem uma biomassa complexa”, acrescentou a pesquisadora.
O Embaixador dos Estados Unidos lembrou que o Presidente Obama já se declarou comprometido com o desenvolvimento dos biocombustíveis, incentivando o comprometimento das indústrias com o desenvolvimento de fontes alternativas de energia em médio e longo prazos. Já o Subsecretário do Itamaraty reforçou que a questão é considerada estratégica pelo governo brasileiro, pois o Brasil pode exercer uma influência mundial importante com todo o conhecimento que acumulou sobre o uso e a viabilidade do etanol de cana como combustível alternativo.