A pujante capacidade de fotossíntese da lavoura canavieira novamente oferecerá uma alternativa para a matriz energética brasileira. A oportunidade de geração adicional de energia elétrica, a partir de ganhos de produtividade no processamento da cana-de-açúcar, deverá garantir no curto prazo um importante fôlego para o sistema elétrico. A cogeração representa neste momento o que o Proálcool representou na crise do petróleo na década de 70.
A industrialização da cana-de-açúcar, além de produzir açúcar e álcool com eficiência, resulta em grande quantidade de bagaço. Este subproduto, também visto no passado como dejeto, sempre foi utilizado na geração de energia para o processo industrial. O seu baixo valor de mercado, aliado à enorme dificuldade, ou mesmo impossibilidade, em vender a potencial energia elétrica a ser produzida com sua queima induziu o setor industrial a operar com tecnologia de baixíssima eficiência.
A atual crise elétrica altera esse quadro de maneira drástica. A geração de energia elétrica pela indústria canavieira torna-se uma necessidade provocando importantes transformações na regulamentação da distribuição e co-geração com biomassa. A urgência deste momento obriga a pôr a força dos preços do mercado de atacado de energia na mobilização do setor canavieiro.
A energia elétrica da co-geração canavieira é a da modernidade. Energia renovável, ambientalmente correta, produzida na época do ano que complementa a hídrica. Sua tecnologia é nacional, os investimentos são em reais e mobilizam a indústria de máquinas local. Seu combustível é a eficiência, pois é o mesmo bagaço que gera mais riqueza.
A cogeração é uma realidade concreta. Este ano 110 MW serão comercializados, representando um salto, comparados com os 30 MW do ano passado. Cerca de 30 novos projetos estão em análise no BNDES. Sem fazer nada de novo veríamos significativo crescimento nos anos futuros. A atual crise exige mais do que isso. É essencial um esforço mobilizador da indústria canavieira, acompanhado de alterações criativas na regulamentação da co-geração. É preciso que todas as unidades se incorporem na transformação de suas indústrias.
A mobilização imediata poderá produzir mais de 1.000 MW já no próximo ano, e cerca de 4.300 MW em três anos. 0s investimentos necessários são inferiores a R$ 5 bilhões colocando-a como a mais econômica entre as novas fontes.
Será necessário que todas as unidades industriais sejam interligadas às rede de distribuição, exigindo investimentos em transmissão e subestações. Inicialmente algumas unidades ainda atuarão com baixo nível tecnológico, produzindo pouca energia por tonelada de cana processada. Para muitas unidades, porém, é possível avançar fortemente no nível tecnológico, realizando investimentos na modernização de caldeiras, turbinas, geradores e processo. A tecnologia está dominada restando o desafio da mobilização empresarial, regulamentação criativa e viabilização dos investimentos.
A atual crise exige um novo paradigma. A co-geração com a biomassa é a resposta da agricultura ao momento nacional.
Pedro de Camargo Neto é secretário de Produção e Comercialização do Ministério da Agricultura e do Abastecimento