Pesquisadores da Faculdade Integrado de Campo Mourão, na região Centro Oeste do Paraná, descobriram na Quinoa, base alimentar dos povos andinos, uma alternativa alimentar como matéria-prima para a indústria de produtos à base de trigo. De acordo com o coordenador do projeto, Lucas Silvério, a Quinoa é um dos alimentos mais completos em termos nutricionais, sendo comparada ao leite materno, com a com a vantagem de não possuir glúten.
Segundo o pesquisador, a academia de ciências dos Estados Unidos considera o grão, comum na Bolívia, como o melhor alimento de origem vegetal para a alimentação humana. “Mercadologicamente, tem apresentado uma demanda crescente no cenário mundial, principalmente como alternativa protéica de qualidade com baixo colesterol e por pacientes celíacos – pessoas que apresentam alergia ao glúten”, conta.
De acordo com dados comprovados de pesquisas americanas, uma em cada 300 pessoas sofre de doença celíaca e fica impossibilitada de consumir produtos com glúten permanentemente, sob o risco de desenvolver desde uma simples irritação intestinal até problemas graves como linfoma do intestino delgado e carcinomas no esôfago.
“O consumo de quinoa tem se demonstrado como um alimento equilibrado afora sua excelente qualidade protéica para o balanço nutricional de pessoas acometidas de doença celíaca ou não, melhorando sua qualidade de vida”, afirma Silvério.
De acordo com o pequisador Marcelo Gonçalves Balan, além das excelentes características nutricionais a quinoa apresenta alto potencial agronômico. “Surge como uma nova opção ao produtor de grãos, ao consumidor e os demais segmentos da cadeia produtiva, melhorando a qualidade da agricultura e da dieta alimentar brasileira”, diz.
Segundo ele, é uma opção viável para os agricultores como uma cultura possível de ser implantada em sucessão (safrinha) e rotação no sistema de plantio direto apresentando, inclusive, um menor risco daqueles observados nos cultivos de trigo e milho safrinha, principalmente na região Sul do Brasil, fornecendo além dos grãos uma considerável quantidade de biomassa para a proteção do solo.
Em 2006 foram introduzidas, no campo experimental da faculdade, quatro populações distintas provenientes da Embrapa Cerrados, no DF. Observou-se que os genótipos apresentaram elevada variabilidade genética, principalmente em relação ao ciclo biológico, peso e tamanho de sementes, altura de plantas e formato das folhas.
Numa área de 8 hectares cultivados em 2007, foram selecionadas plantas com características e comportamentos desejáveis. Para os experimentos executados, a quinoa demonstrou-se tolerante a temperaturas abaixo de 2ºC e a elevado período de estiagem.
Estudos também apontam vantagens da utilização da quinoa para a diminuição populacional do nematóide das lesões Pratylenchus brachyurus (Godfrey) Filipjev & S. Stekhoven por se tratar de uma cobertura menos susceptível a este tipo de nematóide de solo 0 quando comparada a outros tipos de cobertura.
Recentemente foram semeados 300 genótipos em uma área de 2 hectares. Nesta etapa, os pesquisadores irão determinar quais serão os melhores genótipos e, após dois anos de estudos, o desenvolvimento da primeira variedade estará completo.
Para conhecer a realidade sobre a quinoa fora do Brasil, Silvério e o discente do curso de Agronomia da faculdade, Alexandre Paro, foram para a Bolívia. Nos sete dias que ficaram no país, o roteiro dos pesquisadores envolveu viagens a diferentes estados produtores e a participação no maior evento sobre a quinoa do país, denominado Fexpoquinua.