Os emplacamentos de veículos elétricos no Brasil fecharam em 2023 em 94 mil, alta de 91% sobre o ano anterior.
O número pode parecer pouco perto dos emplacamentos de modelos a combustão, que somaram 2,3 milhões no ano passado, mas as previsões indicam que os puramente elétricos e os eletrificados (híbridos, movidos também a gasolina ou etanol).
Mas nem tudo é motivo de celebração.
Essas previsões de alta nas vendas partem de representantes de entidades ligadas a montadoras, revendas, ou seja, do ecossistema do setor que vê o Brasil como consumidor em escala.
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E está aí um dos pontos que merecem atenção.
Os preços dos modelos elétricos, por exemplo, seguem na contramão da renda média dos brasileiros.
Para se ter ideia, dos 51 modelos elétricos à disposição em dezembro, o mercado oferecia modelo com preços ‘acessíveis’, a partir de R$ 113 mil.
Se já parece caro para a maioria dos bolsos brasileiros, a situação ficou pior a partir de janeiro, quando o governo retomou os impostos sobre importação.
A partir daí, já em fevereiro os preços médios do carro elétrico subiram em 19,7%, segundo levantamento da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (ACREFI).
Em comunicado, a diretoria da entidade relata que a alta de preços de híbridos e elétricos decorre do retorno da cobrança do imposto de importação e da chegada de carros elétricos de luxo ao país.
Mas não é só a questão dos preços que cria uma barreira para o avanço dos modelos elétricos e eletrificados no Brasil.
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Confira:
Preços seguem em alta
Os preços médios dos elétricos e eletrificados, que já subiram 19% em fevereiro, tendem a se manterem em alta por um bom motivo: a grande maioria desses veículos é importada.
Exemplo: só a China exporta 51% dos modelos vendidos no Brasil em 2023.
Diante da situação, vale indicar que os preços só deverão cair com produção local, o que deve ocorrer em escala a partir deste 2024, segundo estimativa das montadoras
Poluem e seguirão poluentes
Que os motores elétricos não emitem dióxido de carbono (CO2), disso todo mundo sabe, até porque a publicidade turbina essa informação o quanto pode.
O que também merece destaque é que a maioria das baterias desses veículos é produzida a partir do carvão mineral, que é um forte gerador de poluentes.
Sendo assim, no balanço geral os veículos elétricos poluem bem mais que os modelos flex quando movidos a etanol.
O pior é que essas emissões seguirão porque a maioria das baterias vem da Ásia, cuja principal fonte de produção é o poluente carvão.
Mesmo na Europa, em que a fonte dos elétricos vem do gás natural e do óleo, só é pouco melhor em emissões do que a gasolina.
Em resumo: o Brasil, cuja matriz tem 85% de fontes renováveis, permite que os elétricos rodam sem emitir CO2, ao contrário da Europa, que segue precisando fazer sua lição de casa.
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Recargas insuficientes
Os pontos ou estações de recargas para modelos que precisam ser recarregados somaram 3,2 mil no Brasil em 2023. A previsão da associação do setor de elétricos é que esse número salte para 10 mil até 2025.
Mesmo que essa previsão seja cumprida, ela merece ser discutida. Em primeiro lugar, porque o número segue irrisório para um país cujo território, de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, o torna um dos maiores do planeta.
Em segundo lugar, hoje, em média, um modelo eficiente de elétrico precisa ser recarregado a cada 400 km rodados. Ou seja, são necessárias bem mais estações de recargas.
Geração de renda fica lá fora
Tem mais: se a grande maioria dos veículos elétricos e eletrificados é importada, significa, também, que a geração de renda e de emprego fica lá fora.
Em que pese a retomada dos impostos de importação em janeiro, e os ‘afagos’ que o programa Mover, em discussão, promete para quem investir em pesquisa e desenvolvimento, a geração de riquezas seguirá nos países asiáticos, que lideram a produção desses veículos.
Tem também o caso das montadoras em instalação no Brasil: se elas seguirem importando parte dos equipamentos, a geração da maioria da renda dessa indústria ficará no exterior.
Delcy Mac Cruz
Esta matéria faz parte da edição 350 do JornalCana. Para ler, clique aqui!