No encerramento do I Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica, realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Tecnologia em Nutrição Vegetal (Abisolo), nos dias 8 e 9 de novembro, em Piracicaba – SP, foram abordados temas cruciais como a Adoção de Tecnologia, o Plano Nacional de Fertilizantes e o Potencial de Mercado.
O zootecnista e especialista em forragicultura e Gases de Efeito Estufa (GEE), Fernando Ongaratto, destacou o “Crédito de Carbono a partir da Utilização de Matéria Orgânica” em um dos painés.
Ongaratto apresentou uma visão inovadora sobre a mitigação da pegada de carbono na pecuária de corte, evidenciando como a adoção de práticas sustentáveis pode reduzir em até 40% as emissões de GEE. O destaque ficou para a aplicação dessas práticas em áreas específicas, como a região de Itiquira – MT, onde a pegada de carbono foi significativamente reduzida.
LEIA MAIS > Drul conquista prêmio de fornecedor mais indicado no MasterCana Brasil
Em seguida, o foco se voltou para a cultura da cana-de-açúcar no mesmo painel, com a palestra “Benefícios Indiretos da Utilização de Fertilizantes de Matriz Orgânica na Cultura da Cana-de-Açúcar”, ministrada por Haroldo Torres, gestor de projetos do Pecege.
Torres explorou a aplicação de subprodutos como bagaço e palha na produção de etanol de segunda geração, biogás e fertilizantes, ressaltando a importância da economia circular nesse contexto. Ele ainda discutiu o impacto positivo dessas práticas no mercado sucroenergético, especialmente diante das oscilações nos preços dos fertilizantes em 2022.
Com relação à aplicação de vinhaça biodigerida, Torres trouxe um estudo envolvendo 61 usinas, que reduziram o consumo de fertilizantes sintéticos, ao longo de dois anos. De acordo com ele, houve redução no consumo de potássio e um aumento de 7% do nitrogênio oriundo de matéria orgânica. O setor sucroenergético teve aumento substancial no uso de insumos de matriz orgânica como esterco de frango.
LEIA MAIS > Usina Lins conquista selo de excelente empresa para se trabalhar
O palestrante encerrou a apresentação antecipando o próximo passo da indústria da cana-de-açúcar. “A evolução desse cenário é aplicação da matéria orgânica como a vinhaça, torta de filtro ou estercos diversos, na biodigestão. Uma das usinas desse estudo analisou os resultados com a aplicação da vinhaça in natura e de liquefértil, nesse caso, a vinhaça biodigerida. Foi observado que a vinhaça biodigerida, comparativamente à vinhaça in natura, tem entregado um incremento de 8,2% na produtividade média do canavial. Aqui, se olha para a economia circular além do viés da sustentabilidade, com destaque para o incremento de produtividade e de redução de custos”, concluiu Torres.
Em outro painel, dedicado ao “Plano Nacional de Fertilizantes – Cadeias Emergentes” e conduzido por José Carlos Polidoro, assessor do Ministério da Agricultura. Polidoro enfatizou o papel das chamadas cadeias emergentes na redução da dependência externa por fertilizantes, destacando contribuições importantes, como reciclagem/biotransformação, economia mineral e circular, inovação mineral, agroambiental e eficiência produtiva. Ele ressaltou que essas cadeias já desempenham um papel substancial, indicando uma maturidade considerável nesse setor.
LEIA MAIS > Produtividade da cana cresce 21,5% nesta safra, diz CTC
O último painel, dedicado ao “Potencial de Mercado”, contou com a apresentação de Giuliano Pauli, diretor de inovação da Superbac e membro do conselho deliberativo da Abisolo. Pauli realçou o potencial do Brasil na geração de coprodutos a partir de fertilizantes de matriz orgânica, destacando a necessidade de reduzir a dependência do país de insumos importados. Ele ainda abordou a pauta ESG como uma aliada para valorizar boas práticas nos sistemas alimentares, enfatizando a integração entre nutrição, saúde das plantas e regeneração do solo.
O último palestrante do Fórum de Fertilizantes de Matriz Orgânica foi o professor da ESALQ, Fernando Andreote, com foco em “Condicionadores Biológicos de Solo – Tendências e Desafios”. Ao falar da saúde do solo nas perspectivas física, química e biológica, Andreote destacou dois pontos da agricultura: a produção – qual é o resultado obtido – e o solo – como ele ficou para o próximo ciclo de produção. Nesses dois pontos, ele frisou que a biodiversidade como um elemento funcional ao atuar na estruturação do solo, na nutrição vegetal, proteção das plantas e no processamento de carbono.
LEIA MAIS > BNDES financia usina gaúcha de biometano que deve evitar 14 mil ton de CO2 ao ano na atmosfera
Ao citar o estudo da consultoria McKinsey, denominado “Global Farming Insights 2022”, Andreote afirmou que o Brasil é protagonista mundial quando o assunto é adoção de insumos biológicos por parte dos produtores rurais. A pesquisa apontou que 55% e 50% dos agricultores brasileiros entrevistados estão usando, respectivamente, o controle biológico e os bioestimulantes em suas plantações. Tais indicadores são superados somente pelos países europeus, de acordo com a pesquisa.
“A tecnologia embarcada trará o próximo salto para toda a cadeia, agregando facilidade para os fornecedores e os usuários, ampliando o conceito de fertilidade do solo como caminho para a agricultura”, finalizou.
LEIA MAIS > Vendas externas do açúcar remuneraram, em média, 8,78% a mais que as internas, em outubro
O evento foi concluído com uma palestra internacional sobre as tendências do uso de fertilizantes organominerais na Europa, ministrada por Oliver Hatfield, vice-presidente de desenvolvimento de negócios da Argus Media. O destaque ficou para o Pacto Ecológico Europeu e suas implicações na produção agrícola global.
E pela palestra“Tendências na Silvicultura – Fertilizantes Orgânicos”, ministrada pelo engenheiro florestal e gerente de operações em silvicultura, Charles Costa, que é pioneiro no plantio de eucalipto no Ceará.
A mesa-redonda final, intitulada “Mercado dos Fertilizantes de Matriz Orgânica e de Condicionadores de Solo”, reuniu os palestrantes para discutir as perspectivas e desafios desse setor promissor.