Possibilidades e oportunidades para o futuro da mobilidade de baixo carbono foram os temas discutidos durante o primeiro dia do Symposium SAE Brasil Renewable Fuel 2023, realizado nesta quarta (31), em Campinas – SP.
O evento celebra os 20 anos do carro flex no Brasil, trazendo para o debate organizações que fizeram parte dessa história, como a Bosch, a Volkswagen e a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), que destacaram o potencial de resposta da tecnologia diante dos desafios da crise climática.
Na palestra de abertura, o CEO da Bosch Brasil e América Latina, Gaston Diaz Perez, destacou a importância de se considerar todas as rotas tecnológicas disponíveis para a descarbonização.
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“Essa transição é um baralho de cartas. Para países que só tem uma carta, não há o que se discutir. Mas, no Brasil e América Latina, temos o baralho completo. Por isso, não podemos ter competição entre as tecnologias. É preciso investirmos em todas as rotas, contudo, já temos uma tecnologia disponível, dos motores flex, que possibilita, ao avançarmos no consumo de etanol, alcançarmos a descarbonização de forma considerável em um período entre quatro e cinco anos”, afirmou.
No final da década de 1980, a Robert Bosch desenvolveu um sistema de injeção eletrônica para etanol, que mais tarde viria a substituir o carburador, responsável pela dosagem de ar e combustível na câmara de combustão do motor. Essa tecnologia, que teve os primeiros kits importados pela Volkswagen, foi um passo importante para a criação do motor flex, lançado no mercado brasileiro em 2003, com o Gol Total Flex 1.6, da Volkswagen.
Desde então, o consumo de etanol no Brasil já evitou a emissão de mais de 630 milhões de toneladas de CO2eq. Na comparação com combustível fóssil, o etanol reduz em até 90% a emissão de gases poluentes.
“No caminho da mobilidade sustentável o etanol é parte da solução. Na comparação com as demais fontes energéticas, o biocombustível é um dos com menor pegada de carbono”, ressaltou o diretor de Economia e Inteligência Setorial da UNICA Luciano Rodrigues.
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Produção sustentável
Em sua apresentação no painel “Combustíveis renováveis como protagonistas da descarbonização da matriz global”, o diretor da UNICAreforçou o potencial de crescimento na produção de etanol com as metas estabelecidas pelo RenovaBio, sempre levando em consideração a sustentabilidade e eficiência do processo. “O RenovaBio reforçou o compromisso do setor com a preservação ambiental, com o desmatamento zero, mesmo de áreas legais. Somos uma indústria altamente eficiente, que vem ampliando a quantidade de energéticos disponíveis, como biogás e biometano”, disse Rodrigues.
Outro ponto destacado pelo executivo foi o mito de que a produção de biocombustíveis cria uma competição com a produção de alimentos.
“Ao contrário do que muitos acreditam, não há competição entre food versus fuel. Atualmente, um terço da produção de etanol no Brasil vem de empresas que não produzem açúcar. No restante, em média, há uma divisão equilibrada da cana entre os dois produtos. Para o etanol de milho, usamos o grão de segunda safra. Além do combustível, esse processo resulta em proteína para alimentação animal”.
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20 anos do Flex
Ao celebrar os 20 anos do lançamento da tecnologia flex, que ofereceu ao Brasil uma solução de descarbonização antes mesmo do assunto ganhar relevância mundial, o evento chama a atenção para a necessária complementariedade de tecnologias no enfrentamento à crise climática.
“Não podemos entrar em uma competição entre tecnologias. Motores à combustão associados à tecnologia flex e ao consumo de etanol emitem menos poluentes do que um elétrico europeu, por isso essa tecnologia não pode ser considerada ultrapassada”, reforçou o consultor de Mobilidade da UNICA, Ricardo Abreu.