Mercado

Retrospectiva sobre o “Sugar Week”: pinceladas e alguns recados

As grandes mudanças pelas quais atravessa o mercado sucroalcooleiro fixaram a pauta da “Semana do Açúcar”, em Nova York, sendo o comum denominador de todos os eventos e todas as conversas. Ficou claro na mente dos participantes, que para compreender o que se passa no setor e tentar prever o que poderá vir, é necessário se adentrar na análise dos fatores que incidem no mercado energético a nível mundial.

Como bem disse Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da Unica e orador convidado do “Sugar Dinner”, isto deve começar com o estudo do mercado do petróleo e seus derivados, o qual vive uma das mais importantes transformações da história da energia. O mesmo incorpora rapidamente na cadeia de preços não somente o impacto dos mais variados acontecimentos deste mundo globalizado – desde crises geopolíticas até desastres naturais -, mas também a percepção da contração das reservas e do passivo ambiental, passivo este paradoxalmente gerado pelo seu próprio e extraordinário sucesso ao longo do último século e meio.

O petróleo já não reina soberano, e sua substituição por uma grande variedade de alternativas energéticas vem se mostrando inexorável, dentre elas o etanol, advindo da cana-de-açúcar, do milho, da beterraba e demais agroprodutos. E cada um deles é impactado pelas dinâmicas sócio-políticas e econômicas dos respectivos países produtores e do mercado do qual fazem parte.

Foi dito que a idade da pedra não acabou porque acabaram-se as pedras; foi conseqüência da evolução natural da humanidade nos seus múltiplos aspectos. Do mesmo modo, o fim da era do petróleo, que já se vislumbra, não será necessariamente fruto do esgoto dessa matéria-prima, senão do progresso vertiginoso da ciência e da tecnologia na procura de novas alternativas de energia renovável, sustentável e não poluente.

O Brasil, referência obrigatória pelo seu rol dominante na indústria do açúcar, e pelo seu pioneirismo no desenvolvimento do etanol e sua utilização comprovadamente viável como substituto da gasolina, foi a grande estrela do Sugar Week. Porém, de mão dadas com o reconhecimento de ter-se tornado uma potência dominante no setor, vem o desafio de continuar nesse caminho, com políticas adequadas e inovadoras.

Transformar um produto tradicionalmente comestível em produto combustível foi o primeiro grande passo; o segundo deverá ser a transformação das mentalidades para refletir o amplo consenso que deve existir entre o setor produtivo e o poder público.