Importante alternativa para processo de descarbonização e busca por mais eficiência energética, o biogás e o biometano enfrentam grandes desafios para se viabilizar economicamente.
O assunto foi pauta do Seminário Gás – O combustível da transição energética, promovido, recentemente, pelo Movimento Econômico, em parceria com a Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe).
O presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, explicou que o país tem um grande potencial para o setor, mas a falta de investimentos tem gerado desperdício.
Dos mais de 100 milhões de metros cúbicos (MM m³) de gás natural ofertados por dia, 57,35 MM m³ são reinjetados. Essa média de reinjeção vem crescendo desde 2017, sendo que nos últimos dois anos esse índice ultrapassou o de gás ofertado ao mercado.
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Segundo dados da Abegás, essa perda de gás natural vai na contramão do aumento de demanda pelo combustível. A associação calcula um investimento de US$ 49,5 bilhões sendo escoamento e transporte (US$ 24 bilhões) e distribuição (US$ 11 bilhões) as áreas que necessitam de maiores aplicações.
“É preciso mais investimentos em rotas de escoamento, unidades de processamento e gasodutos de transporte. Isso nos levará a uma redução da dependência da importação e a um mercado menos exposto à volatilidade dos preços internacionais, maior competitividade e melhores condições de preço para todos os consumidores”, explicou Salomon.
Para o presidente da DATAGRO, Plínio Nastari, o biometano e o biogás podem fazer parte da rota de diversificação da cana-de-açúcar em Pernambuco. Ao produzirem açúcar e álcool, as usinas geram dois subprodutos que podem ser usados como matéria-prima para fazer o biogás e, posteriormente, o biometano: a vinhaça e a torta de filtro.
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Segundo Nastari, o estado pernambucano desponta como um forte indutor de biocombustíveis, consequentemente, com um aliado do biogás e do biometano. Do açúcar ao biocombustível de avião, a cana-de-açúcar caminha para uma integração com o milho e, a partir da lógica da agricultura energética, aumentando a oferta de bioenergia sem afetar a produção de alimentos.
Em 2021, só a produção mundial de etanol atingiu os 105 bilhões de litros. O Brasil foi o segundo produtor e contribuiu com pouco mais de 30%. Pernambuco, de acordo com a DATAGRO, é o terceiro Estado da região no ranking de transição de consumo de combustíveis fósseis no transporte, são 38% de presença do etanol (biocombustível).
“O biocombustível nada mais é do que o hidrogênio capturado, armazenado e distribuído de forma eficiente com economia e segurança. Nessa perspectiva de rumo à era do hidrogênio, o etanol e o biometano podem ser entendidos como hidrogênio na forma de combustíveis práticos, fáceis, seguros, eficientes e econômicos de capturar, armazenar e distribuir”, afirmou Nastari.
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O presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool (Sindaçúcar) Renato Cunha, defendeu que o RenovaBio pode ser um dos instrumentos de fortalecimento do biogás e do biometano como tem sido para o etanol. “É preciso estimular o financiamento para garantir a hibridização das fontes de energia”, destacou.
Esse olhar urgente se deve ao atraso que o Brasil vive no desenvolvimento do biogás e do biometano em relação à Europa, contrariando o tamanho do seu potencial. São 18.770 plantas de biogás em 31 países europeus e 992 de biometano em 18 países naquele continente. Só na Alemanha, as 9.009 fábricas de biogás têm capacidade de geração elétrica de 4.166 MW, 51% dessa potência vem de fontes renováveis, sendo 73% da silagem do milho.
Potencial desperdiçado
A gerente executiva da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), Tamar Roitman, afirmou que o Brasil tem o potencial que nenhum outro país tem e que esse ativo tem sido desperdiçado pela falta de incentivo de políticas públicas, regulação e certificação do setor.
De acordo com Tamar, o biometano é o caminho para interiorizar o desenvolvimento, o que deve ocorrer com a implantação de 25 fábricas do combustível, nenhuma delas no Nordeste.
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“Primeiro, é preciso levantar quais podem ser as fontes para a produção do biometano de acordo com a cultura local, aqui em Pernambuco temos a cana-de-açúcar, por exemplo. A partir daí é desmistificar o setor e apresentar as vantagens econômicas e ambientais”, declarou.
Um exemplo de uso do biometano foi apresentado no seminário pelo presidente da Companhia de Gás do Ceará (Cegás), Hugo Figueirêdo. A empresa começou a injetar o biometano em sua rede em maio de 2018 – e hoje, o insumo representa quase 15% no volume de distribuição de todo o gás canalizado comercializado pela companhia.