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Prorrogação de prazos para cumprimento das metas derruba preço do CBIOs

Setor produtivo defende fiscalização pela CVM para coibir infrações

Prorrogação de prazos para cumprimento das metas derruba preço do CBIOs

A decisão do Comitê RenovaBio, formado por membros de ministérios e órgãos públicos, de recomendar o adiamento por um ano da comprovação das metas de descarbonização de 2022 das distribuidoras já tem reflexos no curto prazo.

Desde sexta-feira |15), quando o comitê aprovou a recomendação, os preços dos Créditos de Descarbonização (CBios), que equivalem a 1 tonelada de carbono de emissão evitada, estão em queda.

Segundo dados da B3, após o anúncio da recomendação do Comitê, o preço médio do CBIO recuou 12,2%, passando de 175,25 reais na sexta-feira para 153,94 na segunda-feira.

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Representantes dos produtores de etanol e de biodiesel, principais emissores dos créditos de descarbonização, defendem que a fiscalização dos certificados comprados pelas distribuidoras de combustíveis passe a ser feita pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

A avaliação de membros do setor é de que a retirada dessa função da alçada da agência reguladora ANP poderia ajudar a investigar e coibir possíveis infrações nas negociações, como o Ministério de Minas e Energia tem alegado.

Os preços dos CBIOs atingiram patamares recordes neste ano, chegando a ultrapassar R$ 200. Isso tem impacto direto sobre os combustíveis, já que os custos de aquisição desses certificados são repassados pelas distribuidoras aos consumidores finais. Após o adiamento das metas, no entanto, as cotações entraram em queda.

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Evandro Gussi

“Nós já solicitamos ao Ministério de Minas e Energia e também ao Ministério da Economia para que a CVM pudesse acompanhar. Esse é o nosso principal pleito”, disse em recente entrevista, o presidente da União das Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica), Evandro Gussi.

Nos bastidores do mercado, uma das hipóteses que têm sido investigadas é a de que emissores estariam deixando de colocar certificados à venda, o que reduziria a oferta diante da demanda e, consequentemente, elevaria os preços.

Os produtores, porém, negam que isso ocorra, citando os números da B3. Segundo os dados de terça-feira, existem atualmente cerca de 1,9 milhão de CBIOs de posse dos produtores.

Além disso, somando os certificados em estoque pela parte obrigada e os já aposentados (liquidados), há 20,6 milhões de CBIOs de posse das distribuidoras, o equivalente a 68,4% da meta fixada para 2022.

O presidente-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, faz avaliação semelhante. Para ele, o acompanhamento do mercado de CBIOs pela CVM em vez da ANP faz mais sentido, por se tratar de ativos financeiros.

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Em nota, o Ministério da Economia disse que intermediou uma consulta à CVM, a pedido do MME, mas pelo fato dos CBIOs não serem valores mobiliários, a comissão afirmou que sua regulação estava fora de sua competência.

Plínio Nastari

Os produtores veem a recomendação do Comitê RenovaBio pela prorrogação dos prazos para as distribuidoras mais como uma tentativa de frear os preços de forma mais imediata do que uma medida efetiva.

Para o presidente da Unica, o anúncio do governo transmite uma mensagem ruim ao mercado, tanto do ponto de vista de segurança jurídica quanto ambiental, uma vez que o principal objetivo das metas de aquisição dos CBIOs pelas distribuidoras é a compensação das emissões de gás carbônico na atmosfera a partir dos combustíveis fósseis.

Embora a medida não seja efetiva, já há um efeito psicológico, diz Plinio Nastari, presidente da DATAGRO. “Mercados saudáveis dependem de previsibilidade. Mudanças de regra trazem insegurança”.

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Nastari defende que o governo agilize as negociações de contratos a termo de CBIOs, que permitiriam às distribuidoras acertar compras futuras dos títulos. “Teríamos uma visão mais estruturada de qual é a percepção do mercado sobre o valor à frente dos CBIOs“, defendeu.

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