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O paradoxo dos juros altos

Confira artigo de Jacyr Costa Filho

Jacyr Costa
Jacyr Costa

A elevação da taxa Selic, nos últimos 11 meses, de 2,75% para 11,75% ao ano, inibe três alavancas de crescimento econômico do Brasil. Reduz o aporte de novos investimentos, o poder aquisitivo da população e a competitividade das exportações brasileiras. Ou seja, embora seja o principal instrumento de política monetária utilizado pelo Banco Central para controlar a inflação, a taxa de juros elevada pode, no médio e longo prazo, atropelar o crescimento econômico e a criação de empregos.

Este é o paradoxo dos juros altos: combatem a inflação, mas prejudicam investimentos produtivos, desestimulam exportações e afetam diretamente a capacidade de endividamento dos brasileiros. A alternativa escolhida pelo governo precisa, portanto, ter curta duração, pois influencia negativamente o custo dos financiamentos para empresas e pessoas físicas.

O cenário desfavorável levou a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) à formação de um grupo de trabalho específico para discutir as causas do elevado nível dos juros e propor medidas estruturais para a redução da Selic de modo sustentável. Levantemos aqui um exemplo de facilitação da compra de veículos novos. Atualmente, 70% destas aquisições são feitas via financiamento bancário, com juros notoriamente elevados.

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Importante também destacar a influência de fatores externos que poderão agravar ainda mais a situação dos juros no Brasil. A guerra na Ucrânia e as sanções econômicas impostas pelos países membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) contra a Rússia irão gerar, enquanto durarem, um efeito inflacionário na cadeia de alimentos e de energia em todo o mundo, podendo levar à insegurança alimentar.

Neste caso, os efeitos da elevação de juros serão ainda maiores em nosso país. São José do Rio Preto, por exemplo, será fortemente impactada pelos juros altos, pois as pequenas e médias empresas têm grande relevância para o desenvolvimento econômico local.

Nenhuma política pública é isenta de riscos e excessos. Cabe à boa governança o aprimoramento das práticas que tornem concretos os objetivos previstos. No caso do BC é inegável que o Brasil dispõe de uma equipe experiente que poderá, nesta altura dos fatos, calibrar o modelo em vigor, de modo a torná-lo mais compatível com os interesses da economia como um todo.

Sabe-se que a maximização dos juros não tem efeitos imediatos. Economistas estimam que o aumento da Selic carece, no máximo, de dois trimestres para gerar resultados. Porém, como esta inflação é exógena, proveniente dos efeitos da guerra, este período pode ser insuficiente e produzir efeitos perversos de longo prazo. É importante que o remédio seja dosado na medida certa para eliminar a doença sem matar o paciente.

*Jacyr Costa Filho é presidente do Cosag – Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp e sócio da Consultoria Agroadvice.