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Grupo USJ pede recuperação judicial visando manter atividades

Dívidas da companhia ultrapassam R$ 2 bilhões

Grupo USJ pede recuperação judicial visando manter atividades

O Grupo USJ convocou seus acionistas para uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) que deverá ocorrer na próxima segunda-feira (23) quando será discutido o plano de recuperação judicial solicitado pela companhia, no último dia 12. Sem caixa, a empresa, que processou 3,3 milhões de toneladas e faturou R$ 665 milhões na safra 2020/21, tem dívidas de mais de R$ 2 bilhões. A USJ pretende apresentar plano que prevê transferência de bens, participações e créditos a receber.

Com sede em Araras- SP, o Grupo é composto pela Usina São João; duas sociedades agrícolas, a Agro Pecuária Campo Alto S.A. e a Companhia Agrícola São Jerônimo e uma sociedade detentora de créditos judiciais e garantidora de diversas operações financeiras das demais empresas, a Agro Pecuária Nova Louzã S.A., além de 50% na SJC Bioenergia Ltda, holding criada com a Cargill Holding Participações Ltda.

Como justificativa ao pedido de RJ, a usina alegou a crise enfrentada pelo setor, nos últimos anos, e os vultuosos investimentos para ampliação de suas atividades, como a construção das Usinas São Francisco e Rio Dourado, em Goiás, que exigiu aporte de capital, mesmo após parceria com a Cargill.

Além dos impactos climáticos, que também demandaram altos investimentos para manutenção da produtividade do canavial e fez com que o grupo se sujeitasse à necessidade de se alavancar cada vez mais. “Para garantir suas atividades, em 2012, a companhia emitiu títulos de dívida em Dólar (bonds) que atualmente correspondem à maior dívida do Grupo USJ, principalmente por conta da drástica e descontrolada desvalorização do Real perante a referida moeda”, ressalta a empresa na petição entregue à Justiça.

Diante disso, a USJ passou a enfrentar diversas ameaças de execução e ação de cobrança, dentre elas, a Execução de Título Extrajudicial ajuizada pelo UMB Bank N.A, agente fiduciário de 26 fundos e investidores detentores dos bonds, visando ao pagamento das Notas 2023, isto é, títulos de dívida emitidos e não pagos no mercado financeiro internacional.

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Devido à falta de pagamentos dessas notas, no dia 25 de maio deste ano, a Fitch Ratings reafirmou os IDRs (Issuer Default Ratings – Ratings de Inadimplência do Emissor) em Moedas Estrangeira e Local ‘RD’ (Restricted Default – Inadimplência Restrita) e o Rating Nacional de Longo Prazo ‘RD(bra)’ da USJ. Ao mesmo tempo, a agência afirmou o rating ‘C’/’RR6’ das notas seniores sem garantias, com vencimento em 2019 (USD8,7 milhões) e 2021 (USD3,9 milhões), como também, o rating ‘C’/’RR4’ das notas seniores com garantias e vencimento em 2023 (USD272 milhões) da empresa.

Na análise, a Fitch afirmou que a USJ tem uma liquidez fraca. “A expectativa é de que a USJ permaneça enfrentando crescentes riscos de refinanciamento e reportando fraca posição de caixa para honrar sua dívida de curto prazo. Na ausência de vendas relevantes de ativos, a empresa continuará apresentando uma estrutura de capital sem recursos e precisará administrar sua flexibilidade financeira muito limitada para honrar suas obrigações. A forte desvalorização do real em 2020 aumentou os riscos de refinanciamento da USJ, tendo em vista que as notas representavam mais de 93% de sua dívida total, de BRL 1,9 bilhão, em 31 de março de 2020”, afirma relatório.

Ainda segundo a agência, em 31 de março de 2020, a USJ reportou posição de caixa de BRL45 milhões e dívida de curto prazo de BRL478 milhões, dos quais BRL335 milhões relacionados às notas, com índice de cobertura caixa/dívida de curto prazo inferior a 0,1 vez. Neste período, a dívida total era composta principalmente por obrigações, que respondiam por mais de 90% do montante total. “As notas com vencimento em 2023 são garantidas por um pacote abrangente de garantias, que incluem alienação fiduciária da usina e penhora dos estoques de cana-de-açúcar, afirma.

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Em decisão datada de 15 de agosto, o juiz de Direito da 2ª vara cível da Comarca de Araras – SP, Matheus Romero Martins, informou que o pedido de recuperação judicial solicitado pelo escritório Thomaz Bastos, Waisberg e Kurzweil Advogados, que representa a USJ, apresenta relevante complexidade não só pelo número de empresas componentes do conglomerado USJ, mas também pelo vulto da operação pretendida, e ordenou que a Laspro Consultores faça a avaliação das condições de funcionamento das empresas requerentes e a regularidade de documentos apresentados.

O JornalCana entrou em contato com a USJ,  mas a companhia não quis se a manifestar a respeito da RJ.

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