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Por que captar recursos no mercado de capitais é estratégico para as usinas

Dinheiro mais barato em relação aos bancos é um dos atrativos que leva mais empresas a abrir capital e emitir CRAs e debêntures

Por que captar recursos no mercado de capitais é estratégico para as usinas

Operar como empresa listada na Bolsa, emitir debêntures e certificados de recebíveis (CRAs) são ferramentas de captação financeira que vieram para ficar na gestão das empresas sucroenergéticas.

Na verdade, essas ferramentas são estratégicas em um mercado de açúcar, etanol e bioeletricidade que se mantém desafiador, embora as ofertas institucionais de financiamentos públicos seguem para poucos.

Veja o caso do BNDES, cuja linha denominada RenovaBio reduz a taxa de juros cada vez que a usina-cliente diminui o número de litros de etanol produzidos para emitir um CBio. A linha é bem atraente e está aberta para as mais de 230 usinas credenciadas pelo programa de Estado de biocombustíveis.

No entanto, o banco público é bem direto ao destacar as garantias exigidas para o interessado: hipoteca, penhor, propriedade fiduciária, fiança ou aval “serão definidas na análise da operação”.

As exigências são, sim, necessárias, porém podem afastar muitas usinas que saem de um recente passado de crise financeira provocada por ações do governo – uma delas foi o congelamento do preço da gasolina no governo Dilma Rousseff.

Diante disso, a captação de recursos no mercado financeiro amplia seu peso estratégico, até porque as empresas sucroenergéticas seguem e precisam continuar seguindo práticas de sustentabilidade ambiental.

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Jalles Machado concluiu sua oferta pública inicial (IPO) na B3, em 08 de fevereiro

Além disso, captar recursos financeiros com a abertura de capital é a aposta de empresas para investir na aquisição de ativos e em atividades operacionais sem recorrer a bancos. A atratividade da bolsa está no fato de o dinheiro estar mais barato e farto no mundo, relata o Centro de Estudo de Mercado de Capitais (Cemec), da Fipe.

Neste sentido, um bom exemplo está nas companhias listadas em Bolsa. Em que pese a pandemia da Covid-19 e suas repercussões diretas na queda de consumo de etanol, duas representantes do setor sucroenergético abrem os capitais neste ano.

A primeira delas é a Jalles Machado, que em 08 de fevereiro concluiu sua oferta pública inicial (IPO) na B3. “Com o IPO, a Jalles Machado mantém a listagem de uma empresa do universo agro na B3”, disse Otávio Lage de Siqueira Filho, diretor-presidente da empresa, no evento de conclusão da oferta pública.

IPO da Raízen deve ser o próximo  

A Jalles Machado torna-se a única companhia de capital privado do estado de Goiás listada na B3 e a quarta do setor sucroenergético. As demais são a Biosev, São Martinho e Cosan, que além de etanol e açúcar, extrai e processa petróleo e gás.

Aliás, a Cosan deverá protagonizar ainda neste primeiro semestre de 2021 o IPO da Raízen, joint venture da qual é sócia junto com a Royal Dutch/Shell.

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IPO da Raizen deverá ser o maior da história do mercado de capitais brasileiro em valores nominais

Nada menos do que quatro bancos foram contratados para o que, segundo análise do Brazil Journal, deve ser um dos maiores IPOs da história do mercado de capitais brasileiro em valores nominais.

Estimativa da agência Reuters indica que o IPO deverá levantar cerca de R$ 13 bilhões, montante que só perde – e pouco – para o IPO do Santander Brasil, que chegou a R$ 13,1 bilhões em 2009. Mas supera com folga o da Rede D’Or, que levantou R$ 11,5 bilhões em 2020.

Para analistas, o IPO é parte da estratégia de Rubens Ometto, presidente do Conselho da Raízen, de listar todas as companhias operacionais da Cosan.

A avaliação é de que os recursos levantados com a oferta sejam empregados para arredondar a estrutura de capital da Raízen e suportar sua estratégia de crescimento em energia renovável. Listada, o valor de mercado da Raízen, segundo a Reuters, deve chegar a R$ 100 bilhões.

CRA Verde e debêntures

Além da B3, o mercado de capitais disponibiliza ativos que já são empregados pelas empresas do setor sucroenergético. Entre eles estão os certificados de recebíveis do agronegócio, também conhecidos como CRA Verde.

A Tereos divulgou no fim de março ter realizado transação inédita para a companhia com a emissão de seu primeiro CRA Verde no montante de R$ 348 milhões e prazo de 5 anos.

Segundo a companhia, a emissão está alinhada com os Green Bonds Principles e conta com a certificação certificadora de financiamentos sustentáveis SITAWI. “A oferta reforça o compromisso da Tereos com o desenvolvimento sustentável e o empenho em atrelar seus financiamentos à sustentabilidade”, relata a companhia.

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Assim como a Tereos, a Bioenergética Aroeira, com unidade produtora em Tupaciguara (MG), e a FS Bioenergia, que controla unidades produtoras de etanol de milho no Mato Grosso, também emitiram CRA Verde. Só para destacar, a Aroeira relata ser a pioneira do setor na emissão desse certificado.

Emissão de debêntures entra no ‘cardápio’

Já tradicionais também entre empresas sucroenergéticas, as emissões de debêntures também seguem atrativas no ‘cardápio’ de busca de recursos financeiros no mercado de capitais.

Valor mobiliário emitido por sociedades de ações, representativo de dívida, ele assegura aos detentores o direito de crédito contra a companhia emissora. Assim como em outros setores da economia, esse instrumento de captação de recursos avança também no setor sucroenergético.

Em abril, por exemplo, a Diana Bionergia aprovou a sua quarta emissão de debêntures, no valor de R$ 75 milhões, relata o Valor Investe. Para tanto, a emissão é dividida em duas séries, ambas com vencimento em 2025. Esses recursos serão destinados a reperfilamento da dívida.

* Delcy Mac Cruz

Esta matéria faz parte da edição 325 do JornalCana. Para ler, clique AQUI!