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Produtividade da cana varia no mesmo tipo de solo

Estudos do IAC mostram as interferências das condições climáticas no resultado toneladas por hectare

Produtividade da cana varia no mesmo tipo de solo

As lavouras instaladas em um mesmo tipo de solo, porém com condições de temperaturas e disponibilidade hídrica diversas, terão produtividades variadas destacam pesquisas do Instituto Agronômico (IAC).

De acordo com os estudos é importante conhecer a produtividade do ambiente de produção para saber qual é o mínimo possível para produzir em determinada localidade.

“Por exemplo: o Nitossolo eutrófico, textura argilosa, enquadra-se no ambiente A1, onde a produtividade média é de cinco cortes é de 100 toneladas por hectare, no manejo convencional e na colheita do meio de safra”, explica o pesquisador do IAC, Hélio do Prado.

Esse mesmo solo, em Goianésia, Goiás, onde ocorre seca durante cinco meses seguidos, o ambiente de produção muda para o chamado C1, com produtividade média de cinco cortes de 84 a 87 toneladas por hectare, também no manejo convencional e na colheita do meio de safra. “A maior deficiência hídrica em Goiás é responsável pela menor produtividade”, resume.

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Outro exemplo que comprova esse fenômeno: o Latossolo com teor de argila relativamente baixo atinge cinco cortes de cana no Estado de São Paulo. Porém, o mesmo solo na Paraíba atinge apenas dois cortes. “No terceiro corte nem compensa insistir porque nada produz”, garante o pesquisador.

Segundo Prado, se o ambiente for restritivo, a produtividade é tão baixa que, para alcançar produtividade a partir de 100 toneladas, por hectare, será preciso muito investimento. “No entanto, se o ambiente de partida for favorável, com pouco recurso já é possível atingir os três dígitos”, diz.

No Estado de São Paulo existem locais com clima muito diferentes. Considerando as regiões paulistas canavieiras de Assis e Ribeirão Preto, na primeira a distribuição da chuva é bem melhor do que na segunda. Nessas condições, são diferentes as interações entre solo e clima.

Prado: variedades exigentes devem ser alocadas nos melhores ambientes. As menos exigentes, nos ambientes mais restritivos

“A região de Piracicaba possui área representativa com solo originado da rocha folhelho, muito pobre em cálcio, elemento que estimula o crescimento radicular. Além disso, esse solo é naturalmente muito duro, o que dificulta a exploração radicular em profundidade”, explica.

Por esse motivo, os ambientes de produção paulistas mais restritivos estão em Piracicaba, exceto nos locais geograficamente direcionados para Campinas e para Rio Claro, que correspondem a 25% da região, no máximo.

O pesquisador relata que em suas pesquisas já encontrou o solo mais rico do mundo, chamado Vertissolo, em Juazeiro, na Bahia. Lá, a cana-de-açúcar com manejo de irrigação por gotejamento atinge quase 200 toneladas, por hectare.

Em Goiás, na usina Jalles Machado, onde o solo é tipo Latossolo acrico, tem-se produtividade média de cinco cortes de 68 a 71 toneladas, por hectare, na colheita de meio de safra. Este mesmo solo, na usina Santa Juliana, em Minas Gerais, tem produtividade média de cinco cortes de 84 a 87 toneladas, por hectare, também com colheita no meio de safra.

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Prado explica que isso ocorre porque na Jalles Machado a altitude é de 780m, já na Santa Juliana é de 1.100m. De novo é o clima mudando um ambiente de produção. “Em Goianésia, na usina Jalles Machado esse solo enquadra-se no ambiente E2, mas na Santa Juliana enquadra-se no ambiente C1, ambas no manejo convencional, com colheita no meio de safra”, complementa.

Na Jalles Machado, tem-se produtividade média de cinco cortes de 68 a 71 toneladas, por hectare, na colheita de meio de safra

O pesquisador classificou os ambientes por letras: G2, G1, F2, F1, E2, E1, D2, D1, C2, C1, B2, B1, A2, A1, A+1, A+2, A+4 , A+5. São muito favoráveis os ambientes A+1, A+2, A+3, A+4, A+5; favoráveis A1, A2, B1, B2; médios C1, C2, D1; desfavoráveis D2, E1, E2, muito desfavoráveis os ambientes F1, F2, G1 e G2.

No G2 a produtividade média é inferior a 52 toneladas, por hectare, no A+4 é próxima de 200 toneladas, por hectare. “Um solo muito rico pode ser ambiente G2, isto é, muito desfavorável, se a deficiência hídrica for extrema, tal como em Juazeiro, na Bahia, onde não chove durante oito meses do ano”, explica.

Variedades exigentes devem ser alocadas nos melhores ambientes

O Programa Cana IAC estabeleceu ao longo dos últimos 20 anos uma grande rede experimental, apoiado principalmente por empresas do setor sucroenergético da região Centro-Sul: São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Essa ação permitiu identificar variedades IAC com excelente adaptação e performance em outros estados.

É o caso da IAC91-1099, muito adaptada a Goiás e a outros estados do Centro-Oeste brasileiro. Destaca-se também a IACSP95-5094 com grandes performances no Paraná, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. “Nesta network estamos tendo oportunidade de identificar variedades de excepcional desempenho para nichos específicos”, resume o líder do Programa Cana IAC, Marcos Guimarães de Andrade Landell.

Landell: temos a oportunidade de identificar variedades de excepcional desempenho para nichos específicos

Assim acontece com as variedades que estão em processo de lançamento: a IACCTC05-9561, muito adaptada a Goiás, e a IACSP04-6007, desenvolvida inicialmente na região de Assis e que se encontra em franca expansão nos estados do Paraná e Mato Grosso do Sul.

“O desenvolvimento de micro redes regionais, em nichos extremos, como é o caso do “site” de seleção que temos há 20 anos no norte de Goiás, em Goianésia, nos permitiu, identificar genótipos de acentuada tolerância à seca, como a IACCTC07-8008“, explica Landell.

As informações geradas nessa localidade possibilitam prever quais as variedades apresentam maior tolerância ao estresse hídrico. Dessa forma é possível indicá-las para outras regiões do Brasil. “O uso dessas variedades poderia contribuir para a sustentabilidade econômica e ambiental da atividade”, conclui.