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Usina pernambucana reativa moenda após três anos de paralisação

A Fênix é um pássaro que segundo a mitologia greco-romana renasce de suas próprias cinzas. A comparação não é tão incomum quando se trata da usina pernambucana Santa Terezinha. Depois de três anos sem moer um único talo de cana, a unidade industrial – sob um sistema de gestão compartilhada – está azeitando seu maquinário para dar início a moagem de 400 mil toneladas de cana ao longo da safra 2003/2004. O processo de reativação da usina, única indústria do município de Água Preta, Zona da Mata Sul de Pernambuco, e que estende sua área de influência por oito municípios em um raio de 40 quilômetros, chegando até mesmo a várias cidades de Alagoas, é resultado de um investimento de R$ 3,5 milhões e da persistência dos próprios funcionários.

“A reativação da usina foi a melhor notícia dos últimos anos para toda a região tanto do ponto de vista econômico como social”, afirma Frederico Pessoa de Queiroz, vice-presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco (AFCP) e um dos integrantes da Comissão de Gestão da Usina Santa Terezinha. A unidade paralisou suas atividades em função de problemas administrativos e financeiros que resultaram em débitos que somam cerca de R$ 40 milhões. Em função destes débitos a usina sofreu um processo de intervenção e teve suas atividades paralisadas.

“O objetivo dos atuais gestores é consolidar a empresa para registrar um resultado positivo e assim saldar os débitos existentes”, explica Queiroz. Com a intervenção da unidade por ordem da Justiça, Através da Vara do Trabalho de Palmares, a solução encontrada foi a elaboração de um sistema de gestão compartilhada. A Comissão de Gestão envolve a AFCP, Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Cana de Açúcar de Pernambuco, União Nordestina dos Produtores de Cana (Unida) e Sindicato dos Cultivadores de Cana.

Do ponto de vista social e comercial a reativação da unidade é considerada fundamental para reaquecer a economia de vários municípios circunvizinhos. A usina vai gerar cerca de 500 empregos diretos e aproximadamente 3 mil indiretos. A cana-de-açúcar será 100% originária de cerca de 500 pequenos e médios fornecedores. Hoje as áreas cultivadas com cana-de-açúcar que irão abastecer a usina somam algo próximo de 6,5 mil hectares. O objetivo é que outros 5 mil hectares sejam acrescidos a área atual em um prazo máximo de 3 anos.

Para acionar as moendas da empresa nesta safra foram feitos vários apontamentos e serviços de manutenção além de adquiridos vários equipamentos. Os principais equipamentos envolvem uma turbina, um redutor para o acionamento da moenda, duas turbinas centrifugas de açúcar, dois turbo geradores com potência de 2 mil KVA cada, uma nova caldeira de 60 toneladas de vapor além de duas balanças rodoviárias com capacidade individual para 60 toneladas.

A produção resultante esperada para esta safra que deve chegar até o final de fevereiro do próximo ano, é de 16 mil toneladas de mel e cerca de 36 mil toneladas métricas de açúcar. Cerca de 1/3 da produção de açúcar será destinada ao mercado externo. A expectativa dos gestores é de que a usina produza cerca de 1,2 milhão de toneladas em um prazo de quatro anos. “Vamos desenvolver um programa de restauração da cultura junto com o Banco do Brasil . Esperamos que esta parceria já esteja em plena atividade na próxima safra”, observa Queiroz.

Além de ampliar a produção de açúcar, a Usina Santa Terezinha também vem negociando a possibilidade de produzir álcool através de um sistema de parceria com alguma destilaria próxima. A expectativa é de que esta fase de produção tenha início já safra 2004/2005.

Como o pássaro mitológico, o acionamento das moendas da usina previsto para acontecer no próximo dia 15 de outubro marca o renascimento de uma usina que até bem pouco estava destinada a permanecer nas cinzas da história de uma região.

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