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Nordeste manda álcool para abastecer o Centro-Sul

A transferência de álcool do Nordeste para o Centro-Sul para evitar o

desabastecimento é uma medida cada vez mais viável, segundo especialistas do setor. O volume deve atingir a casa dos 80 milhões de litros, mas com compromisso de que o Centro-Sul devolva-o para evitar o desabastecimento do Nordeste, já que pode ocorrer o aumento do consumo de álcool na região.

Na safra 2001/02, as usinas e destilarias da região nordestina enviaram 300 milhões de litros para atender a demanda do Centro-Sul. Este tipo de transferência acontece todos os anos.

De acordo com a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo – Unica, os estoques de álcool estão em 2,3 bilhões de litros até abril, com consumo mensal de 1 bilhão de litros. Existe a expectativa de que as usinas do Centro-Sul produzam 600 milhões de litros no primeiro mês de industrialização. Estes 600 milhões são

exatamente o volume que faltará no Centro-Sul.

O Nordeste, por sua vez, também precisa garantir o atendimento de sua demanda.

A região consome média de 170 milhões de litros de álcool/mês. Para Renato Cunha, presidente do Sindaçúcar de Pernambuco, a região precisa garantir seus estoques para manter a auto-suficiência de março a agosto, período da entressafra nordestina.

Cunha acredita que a falta do combustível aconteceu por causa do aumento da demanda. “Não houve um recuo de produção de álcool nas últimas safras. O que aconteceu foi um aumento no consumo, que chegou a 10%, respaldado pelos incentivos à produção de veículos a álcool. A produção nordestina se manteve estável, sendo responsável por 15% do abastecimento nacional”, lembra.

Apesar da falta de planejamento, Renato Cunha acredita que a transferência de álcool do Nordeste para o Centro-Sul deve ocorrer em pequenos volumes, possivelmente em torno de 60 a 80 milhões de litros. “A nova resolução do governo em diminuir o percentual de álcool da gasolina poderá amenizar o problema. Na minha opinião a transferência não ultrapassará os 100 milhões de litros”, diz.

Segundo Cunha, a transação deve ocorrer em meados de abril, principalmente as transferências entre grupos e suas filiais.

Para o líder, a safra nordestina de cana deverá terminar mais cedo porque o verão foi longo, com poucas chuvas, altas temperaturas e volumes equilibrados, uma cana seca, mas com um PUI alto (Período de Utilização Industrial). “A safra apresentou bons índices de produtividade e rendimento. Foi rápida, com um sistema de

transporte eficiente, com a cana no ponto adequado para o corte”, frisa.

Outro aspecto interessante da safra 2002/03 levantada pelo presidente do Sindaçúcar de Pernambuco, Renato Cunha, foi o aumento do ATR. “A matéria-prima dessa safra apresentou 6 a 7 kg a mais de açúcar por tonelada de cana do que na safra anterior”, frisa.

Compromisso de devolução

Pedro Robério de Melo Nogueira, vice-presidente do Sindaçúcar de Alagoas, acredita que o Nordeste deva fornecer de 50 a 60 milhões de litros de álcool para o Centro-Sul. “Há acordos sendo feitos entre produtores e distribuidoras. Os estoques de álcool do Nordeste cobrem a demanda até setembro, início da próxima safra. Realmente será um acordo, uma venda com compromisso de devolução a partir de abril ou maio”, diz.

A antecipação do final da safra nordestina deverá ocorrer devido a forte estiagem de 2002, clima seco, apesar das chuvas dos últimos dias.

Segundo Melo Nogueira, no início da safra do Nordeste, estimava-se a moagem de 50 milhões de toneladas de cana, agora já no final, os números estão em torno de 48 milhões de tons. A produção de álcool do Nordeste que era estimada em 1,4 bilhão de litros de álcool, deverá ficar em torno de 1,2 bilhão de litros. A produção de açúcar que deveria ser de 3,5 milhões de toneladas, deverá passar para 3 milhões

de tons. “A próxima safra deverá repetir os números da safra atual”, frisa.

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