Mercado

Setor abre mão de lucro para garantir abastecimento de álcool

A pedido dos empresários do setor sucroalcooleiro, a partir do dia primeiro de fevereiro o Governo está reduzindo o percentual de mistura de álcool anidro na gasolina de 25% para 20%. A medida resulta em prejuízo automático para o setor sucroalcooleiro — algo em torno de R$ 220 milhões — por causa do álcool que deixa de ser vendido. Mas garante o abastecimento do combustível renovável e álcool e evita que proprietários e simpatizantes de carro a álcool não fiquem na mão — ou pior, a pé.

A redução da mistura visa garantir o abastecimento do combustível até o início da próxima safra, em maio, e foi acertada entre o ministro Roberto Rodrigues da Agricultura, Pecuária e do Abastecimento, e representantes do setor, em Brasília, em 15 de janeiro.

Simultaneamente ao anúncio da redução, os representantes das usinas da região Centro/Sul, a maior produtora do País, se comprometeram a aumentar a produção da safra em 2003/04 em 1,5 bilhão de litros e antecipar a moagem, que deveria começar em maio, para em meados de abril.

Embora tenha se cogitado começar a safra já no fim de março, técnicos do setor entendem que essa antecipação é inviável tecnicamente. Simplesmente porque em março, segundo a meteorologia anuncia, deverá ainda estar chovendo muito na região, o que inviabiliza as operações de colheita — o conhecido CTC (corte,carregamento e transporte).

Outro fator de inviabilidade é que a cana neste período encontra-se em crescimento vegetativo. Seu aproveitamento industrial não passaria de 60% do potencial genético. Colhida prematuramente, a cana renderia em torno de 90kg/ATR/ton, quando seu rendimento médio é de 140 kg/ATR/ton.

O uso dos maturadores seria pouco útil, uma vez que produtos deste tipo exigem em torno de 70 dias para produzir o efeito. Neste caso o rendimento da planta é também comprometido.

“O teor de sacarose concentra-se melhor entre junho e setembro”, atesta José Pessoa de Queiroz Bisneto, presidente do Grupo J. Pessoa. Para Eduardo Pereira de Carvalho, presidente da União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo —Unica, esse é o risco que o empresário corre para garantir a produção de álcool.

Rabo de galo e conversão de motor

Em razão do alto preço da gasolina, nos últimos meses o mercado tem constatado aumento significativo do consumo de álcool decorrente do consumo informal — rabo de galo e conversões de motores a gasolina para álcool sem registro nos Detrans, por exemplo. Além disso, no ano passado a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automores — Anfavea, produziu cerca de 42 mil veículos movidos a álcool, o dobro em relação ao mesmo período de 2001. Um número pequeno, é verdade, mas que de alguma forma contribui para aumentar o consumo.

O mercado externo, por sua vez, todos do setor sabem, está progressivamente abrindo as portas para a entrada do álcool brasileiro. Isto significa um mercado de bilhões de litros e o setor sucroalcooleiro deve se preparar para essa imensa demanda.

Banner Evento Mobile