Mercado

Custo de produção atrelado a dólar surpreende produtores

A alta do dólar ajudou a balança comercial e a balança de pagamentos do País, mas não é vantajosa para o produtor de cana-de-açúcar. A avaliação é de técnicos da Associação dos Plantadores de Cana

do Oeste do Estado de São Paulo — Canaoeste. Para eles, embora os preços de exportação soem para cima, representam problemas para o fornecedor.

“De maneira geral, os custos de produção sobem mais do que a receita, isto é, o valor do Açúcar Total Renovável — ATR, que depende dos preços de açúcar e de álcool, sempre fica com aumentos menores que os custos”, diz Cleber Moraes, da cooperativa. “E principalmente o timing diferenciado dos aumentos de custos, que é praticamente imediato, e da receita, que ocorre somente após alguns meses, prejudica o caixa do produtor rural”.

A Canaoeste avaliou o aumento ocorrido nos custos de produção entre janeiro e setembro de deste ano. As fases da cultura que não utilizam muitos insumos como adubos e herbicidas tiveram um aumento de algo em torno de 8%. Entretanto os custos de tratos culturais de cana-planta tiveram um aumento de 23,63% e os de soca de 31,12%, devido aos aumentos de adubos, herbicidas e defensivos.

Conforme o estudo, houve também um aumento na necessidade de capital de giro até em conseqüência da redução do valor do ATR durante a safra e da redução do adiantamento do pagamento de cana realizado pelas unidades industriais, que na safra passada foi de 90% e nesta safra está sendo 80%.

Segundo Moraes, “existe uma necessidade premente e para qual as unidades industriais estão pouco sensíveis, que seja realizada a complementação destes 10% até dezembro de 2002 para que não sejam

prejudicadas as operações de tratos culturais e plantio”.

Quanto ao valor para parceria, apesar de nos primeiros dez dias de outubro resultarem em uma redução de 12,12%, isto é apenas momentâneo, pois o valor do ATR na safra passada em janeiro era

R$ 0,2047 o quilo e hoje – fim da segunda quinzena de outubro – estava em R$ 0,1799 o quilo.

Entretanto, ao final da safra, será feito o complemento dos pagamentos e como o valor deste ano será muito próximo do ano anterior, a variação deste item deverá quase zerar, fazendo com que o aumento dos custos gire em torno de 13%.

Formar estoque é a alternativa – Mas estratégia depende da capitalização do fornecedor. Estudo da Coplacana revela alta de 29,45% nos fertilizantes

Antonio de Celso Cavalcanti, presidente da Federação dos Plantadores de Cana do Brasil — Feplana, concorda com a avaliação da Canaoeste. “O preço da ATR pode estar bom, mas não para assumir

os custos do dólar”, diz. “Com os recentes aumentos da moeda americana, a tonelada do fertilizante saltou, na região Nordeste, para R$ 800, quando o normal fica entre R$ 430 a R$ 470”.

“Quem não estocou, dançou”, observa Cavalcanti. Segundo ele, poucos produtores nordestinos tiveram como investir em estoque porque saíram de uma “seca forte”. O faturamento da safra em andamento,

acrescenta, possivelmente será empregado na compra de adubo para o ciclo 2003/4.

Outro estudo de preços, feito pela Cooperativa Agrícola dos Plantadores e Fornecedores de Cana da Média Sorocabana — Coplacana, com sede em Assis(SP), confirma a tendência de alta nos custos

de produção.

Na média ponderada, entre 9 de agosto a 9 de outubro, os principais herbicidas utilizados pelos associados da entidade foram reajustados em 13%, enquanto os fertilizantes de soqueira, tipo 20-00-30, no mesmo período, tiveram reajuste de 29,45%.

O custo de produção da cana, no entanto, apresentou pouca variação em razão da maior qualidade de quilo de ATR por tonelada, o que fez o setor enfrentar os custos.

Além da variação da quantidade de quilo de ATR, o valor do quilo de ATR apresentou uma variação bastante positiva. Entre julho – para pagamento em agosto – e setembro – para pagamento em outubro,

a ATR saiu de R$ 0,1712 para R$ 0,1799, com reajuste de 5,08%.

Para o gerente da Coplacana, Arlindo Tamelline Júnior, esse reajuste deve dissipar-se no momento em que o produtor de cana enfrentar os aumentos nos preços de combustíveis e de pneus, entre outros insumos.

O estudo referente a custos de produção é feito a cada três meses pela entidade localizada em Assis.

Os dados referem-se ao universo dos 181 fornecedores também ligados à Associação Rural dos Fornecedores e Plantadores de Cana da Média Sorocabana — Assocana.

Eles atendem prioritariamente às fábricas Maracaí, Nova América, Destilaria Paul D’Alho e Água Bonita – essa, produtora exclusiva de álcool. Distribuídos pelos municípios de Palmital, Maracaí, Tarumã, Assis e Platina, deverão totalizar, na atual safra, a entrega de dois milhões de toneladas. No ciclo 2001-2002, entregaram 1.970 milhão de toneladas.

Segundo Flávio Teixeira, gerente agrícola da Assocana, o aumento na oferta da planta se deve ao aumento de área plantada, com a entrada de novos fornecedores. Eles utilizam a chamada planta de ano para ter oferta durante todo o ano.

Para 2003, ele acredita em novas expansões de área, apesar da concorrência da soja. O aumento de canaviais, explica, deve ocorrer por conta principalmente da unidade Pau D’Alho, que entrou na produção de açúcar – VHP – e também já negocia parcerias com fornecedores particulares em busca de mais matéria-prima.

Os fornecedores não terão problemas em ampliar sua base de plantio, até porque há áreas agrícolas disponíveis e o solo tem qualidade – é o chamado terra roxa. Mas eles terão dores-de-cabeça, segundo Teixeira, é com o preço das terras. O hectare médio no município de Cândido Mota, por exemplo, vale R$ 32 mil. O valor inflacionado deve-se à soja, que avança na região.

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