De olho no mercado global de carbono e no crédito de descarbonização (CBios) do Programa Nacional de Biocombustíveis, milhares de engenhos em Pernambuco e na Paraíba adaptarão seu processo produtivo de cana. Da plantação à entrega da matéria-prima às usinas, será implantado um novo modelo seguindo as melhores práticas socioambientais pelo mundo. A decisão foi tomada pela Associação dos Fornecedores de Cana de PE (AFCP) e a Associação dos Plantadores de Cana da Paraíba (Asplan) na última semana. Será lançado até selo de certificação de sustentabilidade, a fim de conferir a qualidade socioambiental da cana. Se chamará ProAR.
A medida é pioneira no setor canavieiro no Brasil. Está em sintonia com o Acordo Global do Clima em Paris, onde definiu metas para redução da emissão de CO² na atmosfera diante das mudanças climáticas. “A cana já é responsável pela menor emissão desse gás porque é a matéria-prima do etanol, um combustível limpo e renovável, diferente da gasolina. Mas a cana ainda retira o CO² do ar pelo processo de fotossíntese da planta. Com o selo, vamos qualificar nosso processo produtivo de cana, elevando a redução da emissão CO² ao usar menos insumos derivados de petróleo, por exemplo”, antecipa Alexandre Andrade Lima, presidente da AFCP.
A Asplan e a AFCP já firmaram o convênio com a empresa certificadora do selo ProAR. O trabalho pioneiro de certificação de boas práticas de sustentabilidade no processo produtivo da cana em PE e na PB ficará a cargo da Associação do Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Educação e Direito. Em nota, o diretor executivo da empresa, Clyneson Oliveira fala sobre o momento oportuno da parceria no quesito socioambiental e para os negócios dos agricultores: o mercado de crédito de carbono está em franca expansão e movimentou US$ 897 bilhões no mundo, o que mostra parte do potencial de agregação de valor que pode ter o setor canavieiro.
José Inácio, presidente da Asplan, não esconde o entusiasmo. O produtor de cana que tiver o selo ProAR ganhará mais financeiramente. “Não será levado em conta só o ATR para a composição do preço da cana, critério usado com base no total de açúcar recuperável do produto, mas agregará valor através do mercado mundial de carbono e os créditos de CBios”, diz Inácio, que também preside a União Nordestina dos Produtores de Cana.
O ProAR contribui inclusive com o Programa Nacional de Biocombustíveis na medida em que busca atender suas metas de sustentabilidade. Para Andrade Lima, que também lidera a Federação dos Plantadores de Cana do Brasil (Feplana), a Asplan e a AFCP estão dando um passo importante, um marco socioambiental, não só para o setor canavieiro do NE, mas para todo o país: apostam no balizamento de boas práticas no campo atrelado às novas necessidades climáticas globais e modelos de desenvolvimento.