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Produtores pagarão R$ 0,01 por m3 de água tirada dos rios

Com a regulamentação do projeto lei 676 de 2000 sobre o uso e cobrança da água no Estado de São Paulo, os produtores rurais deverão pagar R$ 0,01 por m3 pela captação e pelo tipo de descarte nos rios. O projeto está na Assembléia Legislativa para aprovação e promete onerar ainda mais o campo, já que cada consumidor pagará pela captação, derivação e consumo.

Segundo Mário Geraldo Correa, engenheiro do Departamento de Águas e Energia — DAEE, os comitês regionais das bacias e o DAEE deverão ser os responsáveis pela cobrança. “O projeto prevê que para o uso rural ou irrigação, a carência será de quatro anos, mas para o consumidor urbano e industrial a cobrança será imediata. Quanto maior a qualidade da água, menor será a taxa”, diz.

A lei prevê um custo em dobro ao consumidor que lançar a água nos rios sem o tratamento adequado.

Otávio Okano, gerente da Cetesb, de Ribeirão Preto (SP), explica que a taxa de lançamento poderá ser até 30 vezes maior do que a da captação.

Cristina Pereira Rosa Paschoalato, engenheira química da Universidade de Ribeirão Preto (SP), acredita que somente os pequenos produtores serão prejudicados. “A tendência é o êxodo das indústrias para as margens dos rios onde as águas serão mais limpas. Essa medida deverá prejudicar os pequenos produtores que apenas usam a água, mas deverão pagar também pelo descarte”, fala.

Os ambientalistas acreditam na aprovação do projeto. “A esperança é que o projeto seja aprovado, pois é um instrumento de gerenciamento de recursos hídricos, destinado aos investimentos e programas para o uso racional das águas”, frisa Mário Correa.

Uma usina de médio porte que processa 10.000 toneladas de cana na safra, gasta aproximadamente, 2.400 m3/hora de água. Assim, com a lei em vigor ao valor de R$ 0,01/litro, ela gastaria cerca de 57.600 litros de água/dia ou pagaria por dia R$ 576,00, totalizando R$ 17.280,00/mês.

Uma usina como a Vale do Rosário que durante a safra esmaga cerca de 21.000 toneladas de cana/dia, consome 1.100 m3/hora de água na safra, devido o sistema de otimização implantado ou circuito fechado com torres de resfriamento, águas residuais mais a vinhaça que são aproveitadas para a fertirrigação, gastaria R$ 7.920,00/mês.

Sidnei Aires Brandão, engenheiro responsável pela área de meio ambiente da Usina, explica que a cobrança pode provocar outros aumentos, como o da taxa de esgoto. “Espero que esses valores sejam

revertidos para os programas de meio ambiente, ou bacias dos rios”, diz.

Usinas investem em tratamento de água, efluente e resíduo

Cada vez mais as usinas sucroalcooleiras investem em gestão ambiental. Segundo especialistas, a qualidade da água tem melhorado com as novas técnicas utilizadas, tanto de tratamento químico, como

os revestimentos de tanques e canais de vinhaça com a manta asfáltica. As unidades também têm respeitado a legislação ambiental e solicitado junto aos órgãos competentes o monitoramento de suas

áreas.

O laboratório de Recursos Hídricos da Universidade de Ribeirão Preto atende aproximadamente 30 usinas através do monitoramento dos aquíferos, dos rios, canais de vinhaça, efluentes, além da análise

de açúcar e álcool para exportação.

De acordo com a engenheira, Cristina Paschoalato, o controle de Demanda Bioquímica de Oxigênio — DBO e a Demanda Química do Oxigênio — DQO é realizada pela Unaerp, uma vez por mês nos rios e o monitoramento do aquífero da área da vinhaça acontece duas vezes ao ano. “Fazemos o monitoramento da vinhaça que apresenta uma grande quantidade de potássio e sódio que podem prejudicar o solo. Mas hoje os tanques de vinhaça estão em locais altos, distantes dos aqüíferos. As águas de lavagem de cana contém muita terra mas não diminuem o oxigênio do rio, a contaminação pode acontecer se tiver agrotóxicos nesta água”, diz.

Otávio Okano, gerente da Cetesb, explica que há 20 anos o armazenamento de vinhaça era feito em grandes tanques e existia o risco de rompimento e de atingir o lençol freático, mas com o passar dos anos e o desenvolvimento das técnicas de fertirrigação com a vinhaça, o problema foi amenizado, pois deixaram de lançá-la no rios.

Atualmente as usinas devem em todo o início de ano apresentar para a Cetesb um plano de fertirrigação para não ultrapassar os volumes estabelecidos. “O limite máximo de vinhaça anual permitida para a

fertirrigação é de 150 kg de potássio por ha. Esse índice não prejudica o solo”, frisa.

Segundo Okano, com o circuito fechado das usinas, a água captada foi totalmente reaproveitada e sem lançá-las nos rios. Outro fator importante foi a cogeração de energia que ajuda no controle de poluição, pois há caldeiras mais novas.

Uma das técnicas utilizadas por duas unidades industriais do Centro Sul é o tratamento de água com a utilização do policloreto de alumínio, em substituição ao sulfato de alumínio e barrilha leve.

Na safra atual a Usina São João de Araras mantém o tratamento químico com o policloreto de alumínio.

Segundo o engenheiro, José Ieda Neto, gerente da divisão industrial, a unidade trata cerca de 1.000.000 m3 por mês na safra e na entressafra apenas 180.000 m3/mês. “A estação de tratamento

de água desse porte foi um investimento alto, pois foi montada numa época que consumíamos o dobro da água que consumimos hoje, mas num futuro próximo o consumo será menor pois estamos implementando um programa de racionalização do consumo de água. Já o novo de tratamento, não custa nada pois utilizamos todos os equipamentos já existentes no projeto original, só mudamos o produto químico”.

A Cetesb fiscaliza o sistema, mas a unidade também tem um monitoramento diário da qualidade da água tratada, além do acompanhamento do Instituto Adolfo Lutz de Campinas.

O processo de purificação da água da USJ consiste em um tratamento físico, químico e biológico, através da utilização da água bruta proveniente da represa, captada por bomba até a entrada do sistema

de tratamento químico.

A Vale do Rosário também possui uma estação de tratamento de água, onde utiliza-se o policloreto de alumínio PANFLOC AB – 346 da Pan Americana, como coagulante inorgânico para o processo.

Sidnei Aires Brandão, engenheiro da área de meio ambiente da Usina, diz que o produto, que foi testado em junho deste ano gerou uma economia de R$ 4.048,80 / mês.

O Grupo João Lyra tem um sistema que possibilitou a certificação ambiental, ISO 14001 à Usina Guaxuma.

De acordo com Francisco Celestino, assessor de diretoria, a Guaxuma possui o circuito fechado de águas na indústria para a melhoria da qualidade das águas que são filtradas. “Os efluentes são tratados

e utilizados em fertirrigação. Há o recolhimento da água da lavagem de cana e outras águas residuais são transportadas para decantadores que recolhem partículas sólidas, depois controlam a vasão, passam por uma piscina de estabilização para lançá-las nos canais de fertirrigação. Os resíduos sólidos

são misturados com bagaço para fazer a compostagem que se transformam em húmus, reduzindo em 50% o consumo de adubo químico”.

O Grupo também está se reunindo com o Instituto Holus para a implantação do SA 8000 e iniciando um trabalho de sequestro de carbono. “O Grupo tem como lema a gestão da qualidade global em todas

as unidades e a melhoria contínua des processos”, finaliza.

Revestimento com manta asfáltica protege o solo

O eng° Carlos Romano, gerente de negócios – aplicadores de impermeabilizantes da empresa Denver Global, explica que a manta asfáltica permite a facilidade de manutenção do canal, diminuição de perda da água e vinhaça, evita a erosão dos canais, protege o solo contra infiltração da vinhaça, defendendo o lençol freático e aumentando a velocidade de circulação da água e vinhaça.

Romano diz que a manta asfáltica é aplicada com maçarico, inicialmente se faz necessário um trabalho topográfico. Após a topografia os canais são recuperados com a compactação do solo e limpeza, retirando qualquer elemento estranho como pedras, madeiras, etc.

Após a execução do revestimento, é feita a fiscalização para assegurar que toda manta asfáltica aplicada estará em perfeitas condições para início de operação do canal.

A Denver Global instalou a manta nas unidades Iturama e Campo Florido – MG. A Usina Iturama realiza o tratamento de água para utilização na indústria e a água residual é captada à partir das piscinas de decantação. As cinzas provenientes da lavagem de gases e a torta de filtro são utilizadas como fertilizantes em área total nas lavouras.

Paulo Kronka, gerente agrícola da Iturama, informa que a vinhaça é bombeada da indústria para a lavoura e é conduzida por uma distância de 10 km por tubulação de plástico reforçado com fibra de vidro (PRFR) de 12 polegadas. “Chegando na lavoura, cai direto em canais revestidos por manta asfáltica. São 35.000 metros de canais revestidos. Em locais estratégicos, existem pontos de bombeamento, dos quais saem as tubulações de alumínio de 6m x 6 polegadas que funcionam como linha primária, na qual conecta-se o carretel enrolador (rolão) que funcionam com barra irrigadora (de 48m, que vêm substituindo os canhões pela melhor uniformidade de distribuição)”, salienta.

Além da Iturama, a filial de Campo Florido tem um projeto de aplicação de vinhaça com 100% dos canais (29.000m) revestidos com manta asfáltica”, onde mantemos uma equipe com seis carretéis

enroladores para a aplicação de vinhaça nas áreas dos fornecedores, uma vez que toda a matéria prima em Campo Florido é produzida por fornecedores de cana. À partir dessa entressafra estaremos

instalando uma torre de resfriamento de vinhaça e revestindo o tanque de vinhaça que fica na indústria”.

Kronka explica que as principais vantagens no revestimento dos canais é o melhor aproveitamento da vinhaça evitando a sua infiltração, que pode chegar até em 25% e a proteção do meio ambiente, principalmente em áreas onde o lençol freático é mais próximo da superfície.

“O custo de investimento é da ordem de R$ 25,00 a R$30,00/m linear de canal com seção média de 2,5m incluindo as obras civis (passagens, bueiras, pontos de bombeamento e outras obras civis)”, lembra.

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