Mercado

Pesquisas de agrocombustíveis

A boa e oportuna notícia de um centro de excelência da Embrapa. Bastante oportuno o governo brasileiro comemorar 33 anos da bem-sucedida história da Embrapa com a criação do centro de pesquisas de agrocombustíveis. Por um lado, porque demonstra a maturidade da instituição ao não se acomodar diante dos louros do passado e estar sempre buscando manter-se na vanguarda do conhecimento em sua área de atuação. Assim, como está sendo concebida a operacionalização desse centro, vale muito mais seu poder catalisador do que sua localização física; muito mais sua capacidade de arregimentar novos parceiros para a pesquisa científica/tecnológica e o estudo de oportunidades de negócios do que seus eventuais laboratórios.

Por outro lado, a iniciativa há que ser saudada porque a visão sob a qual se cria esse novo centro de excelência está alinhada com o que deve ser buscado para a competitividade empresarial em tempos de economia do aprendizado. Esta, ao contrário do que ocorreu em outras fases do progresso econômico, está centrada em processos interativos que resultam em novos conhecimentos que ensejam vantagens competitivas dinâmicas aos agentes econômicos que participam desses processos.

Ou seja, o centro será de excelência na medida em que for capaz de arregimentar tanto o conhecimento sistematizado (cuja transmissão e tratamento fica cada vez mais facilitada pelas tecnologias da informação e das comunicações) quanto aquele de conteúdo tácito. A obtenção deste está cada vez mais associada a redes de cooperação que se fundamentam muito mais na confiança do que em relações hierárquicas.

Os casos de sucesso mais recentes indicam que as “janelas de oportunidades” podem ser encontradas tanto em força de trabalho qualificada quanto em recursos naturais. O bem-sucedido caso indiano em diversas áreas (dentre as quais geralmente se destaca a de software) ilustra bem o exemplo em que as vantagens competitivas dinâmicas encontraram importante apoio em recursos humanos qualificados para a produção de inovações a partir de bem articuladas interações com seus usuários (existentes e/ou potenciais).

A origem do também bem-sucedido caso de competitividade nórdica em inovações (tecnológicas, de processos, de produtos) ao longo da cadeia produtiva florestal pode ser encontrada na disponibilidade de recursos naturais. Mas há muito as empresas do “cluster florestal” desses países não têm no manejo e exploração de suas florestas o principal ingrediente de sua competitividade nesse setor.

Ao contrário, eles são destaques no cenário mundial pelos avanços permanentes que fazem na área de máquinas e equipamentos (tanto para a silvicultura quanto para o processamento de madeira e celulose) e no design de móveis e de papéis de alto valor agregado.

Dessa forma, mais do que a Bangalore da agroenergia, o que se afigura para o Brasil num futuro próximo é a constituição de uma articulação de governos (federal, estaduais e municipais), empresas, centros de pesquisa e sociedade civil que certamente resultará em uma vantagem competitiva para o País na produção de energia renovável. Mais importante, essa vantagem competitiva, ainda que inicialmente tenha como ingrediente a disponibilidade de recursos naturais, cada vez mais se firmará no conhecimento que estará sendo gerado através de interações entre usuários e produtores de inovações.

A inovação é processo social que tende a ser mais bem-sucedido em ambientes em que a cooperação voltada para o aprendizado é facilitada por arranjos institucionais outros que não aqueles intermediáveis pelo mercado. Dessa forma, a constituição de um consórcio de organizações governamentais e privadas voltado para a produção de agrocombustível no País e sua difusão no mundo é uma demonstração de maturidade de todos que dele participam.

Afinal, há muito se sabe que, em tempos de economia do aprendizado, para se tornar competitivo no mercado há que se ser cooperativo na fase de geração de novos conhecimentos.