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Exxon aposta seu futuro na direção contrária à do Protocolo de Kyoto

Nos laboratórios da Exxon Mobil Corp. nesta cidade do Estado de New Jersey, não há um painel solar ou moinho de vento à vista. O mais perto que os cientistas da Exxon chegam da energia “renovável” é aperfeiçoar um óleo que a empresa possa vender para usinas eólicas. Petrolíferas como a BP PLC e a Royal Dutch/Shell Group estão adotando uma atitude “melhor prevenir do que remediar” em relação ao efeito estufa. Elas abraçam o conceito aceito por um número cada vez maior de cientistas de que os combustíveis fósseis são um importante contribuinte para o problema, e endossam o Protocolo de Kyoto, de 1997, que limita as emissões. Elas começaram a investir em alternativas a combustíveis fósseis.

Não a Exxon. Abertamente, a maior petrolífera de capital privado do mundo questiona a noção de que os combustíveis fósseis sejam a principal causa do aquecimento global. Assim como o governo americano, a Exxon se opõe ao acordo de Kyoto e à própria idéia de limitar emissões que causariam o efeito estufa. O Congresso americano está debatendo um projeto de lei que inclui limites para as emissões, mas o governo e a Exxon dizem que os custos seriam enormes e os benefícios, incertos.

A Exxon prevê que a energia solar e a eólica continuarão a fornecer menos de 1% da oferta de energia do mundo em 2020. Mesmo que os combustíveis fósseis sejam o principal culpado do efeito estufa, argumenta a Exxon, a resposta sensata é descobrir como queimá-los de modo eficiente.

“Não estamos brincando com essa questão. Não tenho certeza de que possa dizer isso sobre outras”, disse Lee Raymond, presidente da Exxon, numa recente entrevista ao Wall Street Journal na sede da Exxon em Irving, Texas. “Eu ouço esta pergunta muitas vezes: ‘Por que você não gasta US$ 50 milhões em painéis solares? Contabilize isso no orçamento de relações públicas e diga que é como mais um poço seco.’ A resposta é: esta não é nossa maneira de agir.” Raymond, de 66 anos, passou a ser o maior saco de pancadas no debate sobre o aquecimento global. Em fevereiro, num jantar da indústria petrolífera em Londres em que foi o convidado de honra, manifestantes do Greenpeace derramaram vinho tinto nas mesas e chamaram Raymond de “criminoso número 1 do clima”. Raymond se ateve a seu discurso preparado, dizendo que o tratado de Kyoto precisa ser “confrontado com a realidade”.

A abordagem da Exxon para o efeito estufa exemplifica o foco no resultado financeiro de todo o seu negócio. Ela está trabalhando duro para melhorar a eficiência de energia de suas refinarias — para cortar custos, embora isso também vá reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Mas a empresa diz que a proposta empresarial para fazer mudanças mais agressivas ainda é fraca. É uma abordagem conservadora, inflexível, que fez da Exxon a petrolífera mais rentável do mundo, com lucro líquido em 2004 de US$ 25 bilhões — mas que também atrai críticas. “Há dois cenários possíveis. Um é que todos os cientistas do mundo estejam errados, e neste caso não há mudança do clima, e a Exxon se sairá bem”, diz Andrew Logan da Ceres, um grupo ambientalista de Boston que está tentando criar pressão de acionistas para fazer a Exxon mudar de posição. “Mas se os cientistas estiverem certos e tivermos de descobrir uma maneira de transformar a maneira como usamos a energia, então a Exxon vai estar muito atrás de suas concorrentes.”

A Exxon não está ignorando o aquecimento global. Além de sua pesquisa em New Jersey, ela prometeu US$ 100 milhões em dez anos para uma pesquisa na Universidade Stanford sobre o que ela chama de “megatecnologias” revolucionárias. Entre elas: capturar dióxido de carbono depois que ele é emitido e enterrá-lo em subsolo profundo. Os pesquisadores da Stanford também estão procurando maneiras radicais de fazer a energia solar e a eólica mais econômicas. A Exxon acredita que se o aquecimento global realmente for um problema ambiental significativo, a única resposta séria serão tecnologias simples que até países em desenvolvimento como China e Índia consigam bancar.

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