Localizada em Pitangueiras (SP) e primeira unidade produtora de São Paulo a implantar o software de otimização em tempo real S-PAA, a Usina Pitangueiras também é destaque com a criação de um ‘filhote’ do sistema.
É o caso do programa CRA 4.0, que integra os profissionais do ‘chão de fábrica’ ao processo de decisão e gestão da empresa.
Na prática, o CRA 4.0 é um caso de aplicação real do conceito Usina 4.0, integrando de forma harmônica pessoas e máquinas, através do uso de big data e inteligência artificial.
Claudemir Leonardo, gerente industrial da Usina Pitangueiras, explica detalhes desse programa, cujos resultados positivos têm destacado a unidade assim como as performances positivas do S-PAA.
O que é o CRA 4.0?
Claudemir Leonardo – A gente montou o programa que chamamos CRA 4.0. É uma sigla que integra Comprometimento com Responsabilidade que gera Autonomia.
A gente já tinha os documentos e formulários da ISO. Por meio do software de inteligência S-PAA – implantado na Usina desde 2015 – nasceu a ideia do CRA 4.0.
Como funciona o CRA?
Claudemir Leonardo – Na Pitangueiras, o S-PAA atua com cinco laços fechados, nos quais o software altera automaticamente as condições operacionais, utilizando as malhas de controle da planta industrial.
Com o CRA, aprimoramos os laços abertos – nos quais o operador atua conforme as informações e recomendações disponibilizadas pelo sistema. Todos os indicadores hoje estão parametrizados de forma dinâmica no software, e quando o parâmetro sai fora da meta, o sistema disponibiliza em tempo real e aciona o operador.
E o que ocorre então?
Claudemir Leonardo – A própria equipe de operação fez uma lista do que chamamos de anomalias. Quando ocorre um desvio, os operadores já têm uma carta de recomendação com as opções de solução e o possível desvio. Isso encurta o tempo de resposta e gera um fluxo de aprendizagem.
Hoje, por exemplo, o nível do primeiro terno da moenda é medido online. Se o nível sai fora da meta para o indicador, automaticamente o S-PAA já lê e joga para o sistema. Ao mesmo tempo, começa a alertar para o operador. Ao clicar no ícone, ele abre uma carta de recomendações com possíveis falhas e as possíveis ações.
Além disso, o software fornece para a equipe de gestão a informação de quanto tempo o nível ficou fora da meta. No fim de cada turno, o S-PAA gera um plano de ação o qual a base operacional avalia e dispara para o supervisor. Uma hora depois também é gerado o plano para avaliação do gerente. Usando uma expressão comum da área industrial, aqui fazemos uma gestão que chamamos de empurrada, e não puxada.
Qual é a diferença?
Claudemir Leonardo – Puxada é quando vem do gerente para a base. Fazemos empurrada porque vai da base para o supervisor e, dele, para o gerente e chega até o diretor
A gente envolve cada vez mais a base, o chão de fábrica. O bom no CRA 4.0 é que a base, ao ser envolvida, se compromete. Isso porque os colaboradores operacionais ajudaram a desenvolver os indicadores e as cartas de recomendação.
Todo mundo se envolveu para fazer junto. Desde o auxiliar, o operador, o mecânico, o coordenador, o supervisor.
Qual é o próximo passo do CRA 4.0?
Claudemir Leonardo – O próximo passo é criar o âmbito de todos os indicadores da planta toda estar no CRA 4.0, tudo em tempo real. Assim, a gente fica mais proativo do que era há um ano e meio atrás. Ou seja, sair de um modelo reativo.
Vamos a um exemplo: uma pol da moenda é de quatro em quatro horas. Eu poderia ter a pol e só no outro dia alterar a extração, já que o modelo era reativo. E o que criamos? Criamos 13 indicadores proativos. Significa que se o operador cuidar desses 13, automaticamente no outro dia a extração irá ocorrer com a máxima eficiência.
E funciona?
Claudemir Leonardo – Sim. A chave do negócio está nas pessoas. Junto com o CRA 4.0, trabalhamos muito forte a motivação e a liderança. Saímos de um estilo de liderança por poder, no qual o líder manda, por outro de liderança pela autoridade. É uma liderança servidora, que está ali para ajudar.
Assim, nosso pessoal tende a se sentir dono do indicador. Hoje, se sair fora ele tem autonomia para tomar decisão e fazer a mudança. Não precisa vir do consultor, do supervisor ou do gerente. Por isso, cada colaborador se sente dono do negócio.
Mesmo açucareira, unidade opera mix 50% e 50%
Açucareira, a Usina Pitangueira operou mix de 72% para o açúcar e o restante para o etanol na safra 2018/19.
Na safra vigente, o mix está 50% e 50%.
Como a Usina conseguiu esse mix?
“Não houve investimentos”, destaca o gerente industrial Claudemir Leonardo.
“Além de melhorias feitas na própria destilaria a partir de melhoria na manutenção, há o trabalho feito com a base dentro do CRA 4.0 e do programa Café com a Diretoria.”
Como funciona esse programa?
“Todo o chão de fábrica é chamado e ouvimos tudo que o pessoal acha estar errado e que precisa ser melhorado”, comenta.
Como resultado, a Pitangueiras registrou na safra 2019/20 seu recorde diário de etanol hidratado, com 637 metros cúbicos.
E registrou também o recorde diário de moagem, com 15.314 toneladas.
A moagem prevista para a safra fica entre 2,350 a 2,4 milhões de toneladas.
“É preciso reconhecer que, sem apoio da diretoria da Usina Pitangueiras, não conseguiríamos implantar o CRA. E sempre tive e tenho apoio dos diretores da empresa.”
“A chave do negócio está nas pessoas. Junto com o CRA 4.0, trabalhamos muito forte a motivação e a liderança. Saímos de um estilo de liderança por poder, no qual o líder manda, por outro de liderança pela autoridade.”