Mercado

Estudo mostra impacto do câmbio sobre a receita da indústria

Uma análise realizada pelo Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) sobre o impacto da apreciação do real na rentabilidade setorial da exportação de produtos manufaturados, divulgado na sexta-feira passada, mostra efeitos negativos diferenciados segundo o destino e os segmentos produtivos, de maior intensidade sobre os setores de maior coeficiente exportador.

De acordo com o estudo, no período 2001-2004, especialmente nos últimos dois anos (2003 e 2004) os setores que direcionam suas vendas primordialmente para países e regiões fora do eixo EUA-América Latina e que são basicamente setores produtores de commodities têm sofrido perdas bem menores do que os demais setores. Dentre os setores perdedores -, vale dizer, os segmentos que têm sofrido pesadas perdas cambiais como resultado da maior valorização da moeda brasileira em relação ao dólar e às moedas latino-americanas -, estão os segmentos industriais de maior valor agregado. Sem considerar a taxa de câmbio real-dólar e levar em conta uma cesta de moedas internacionais, ponderada pela participação de cada país ou região no total das exportações do setor, o comportamento do índice de rentabilidade torna-se diferente, de forma que diversos setores melhoram sua situação. Assim, 12 dos 25 setores considerados passam a ter um ganho maior (ou perda menor) de rentabilidade no período.

Mais do que isso, alguns setores que teriam perda de rentabilidade, se fosse considerado o cálculo apenas com o dólar, passam a registrar ganho no cálculo com a cesta de moedas. São os casos de óleos vegetais, café, beneficiamento de produtos vegetais, abate de animais, metalurgia de não-ferrosos, extrativa mineral e madeira e mobiliário.

A grande maioria dos setores registrou valorização de seu câmbio real efetivo entre 2001 e 2004, com as exceções dos segmentos Açúcar, Óleos vegetais e Abate de animais. A explicação está em que esses três setores destinam quase todo o seu valor exportado para países que não os EUA ou os da América Latina. No caso do Açúcar, a maior parte das vendas destina-se à Rússia, país cuja moeda tem se valorizado frente ao dólar. Em óleos vegetais, quase a totalidade das vendas tem como destino a Europa, cujas moedas (em especial o euro) também têm se valorizado frente ao dólar nos últimos três anos. O setor de abate de animais também vende quase tudo para Europa, Rússia e Japão, país cuja moeda também tem se valorizado em relação ao dólar.

Situação similar é observada em setores cuja valorização da taxa efetiva real foi relativamente pequena no período, como beneficiamento de produtos vegetais, café, extrativa mineral, celulose, papel e gráfica e metalurgia de não-ferrosos. Vale destacar ainda que todos estes setores são basicamente produtores de commodities.

Em contrapartida, para setores produtores de bens manufaturados diferenciados que têm suas vendas mais concentradas nos EUA e em países da América Latina, a valorização da taxa efetiva foi bem mais expressiva. Entre 2001 e 2004, essa valorização foi superior a 20% em segmentos como borracha, farmacêutica e veículos automotores; entre 15% e 20% em outros produtos metalúrgicos, minerais não metálicos, artigos de vestuário, indústrias diversas, material elétrico, peças e outros veículos, elementos químicos, máquinas e tratores, refino de petróleo e petroquímicos, químicos diversos, têxtil e equipamentos eletrônicos; entre 10% e 15% nos setores de madeira e mobiliário, outros produtos alimentares, calçados, couros e peles, siderurgia e plástica.

O estudo mostra as taxas de variação do câmbio efetivo real de cada setor entre os anos de 1998 e 2001 e para o período completo de 1998 a 2004. No primeiro, verificou-se um movimento exatamente contrário ao verificado no período mais recente, em primeiro lugar porque houve forte desvalorização da moeda brasileira diante do dólar e, em segundo lugar, devido à valorização do dólar diante das demais moedas internacionais.

Ou seja, a moeda brasileira apresentou desvalorização mais significativa em relação ao dólar e também em relação às moedas da América Latina, do que em relação às demais moedas. Como resultado, a taxa de câmbio efetiva real apresentou maior desvalorização nos setores produtores de manufaturados (voltados para EUA e América Latina) e menor desvalorização nos demais setores. No balanço dos dois períodos, os dados revelam um saldo de desvalorização da taxa de câmbio real efetiva no período 1998-2004, indicando que a valorização ocorrida no segundo período reduziu-se bastante. Na maioria dos casos, porém, ainda deixou um saldo de desvalorização originada do primeiro período.

Resumindo, duas conclusões emergem da análise. Primeiro, as taxas de câmbio reais relevantes para cada um dos setores são bastante diferentes entre si, refletindo as diferenças na composição das vendas de cada setor segundo países e regiões de destino. Segundo, no período 2001-2004, especialmente nos últimos dois anos (2003 e 2004), os setores que direcionam suas vendas primordialmente para países e regiões fora do eixo EUA-América Latina e que são basicamente setores produtores de commodities têm sofrido perdas bem menores do que os demais setores. Dentre os setores perdedores – os segmentos que vêm sofrendo pesadas perdas cambiais como resultado da maior valorização da moeda brasileira em relação ao dólar e às moedas latino-americanas -, são predominantes os segmentos industriais e os setores exportadores de maior valor agregado.

O estudo também constata que em setores em que os preços de exportação não compensaram a valorização cambial a queda de rentabilidade das exportações foi acentuada nos últimos anos. Em alguns setores, a evolução do custo de produção para exportar foi também relevante para definir perdas de rentabilidade. O comportamento da rentabilidade total dos setores indica vantagem para os segmentos com menores coeficientes de exportação. Já nos setores com coeficientes de exportação superiores a 20% – sobre os quais as variações do câmbio têm um efeito significativo sobre a rentabilidade total – a queda de rentabilidade total foi mais pronunciada.