Presidentes apostam as fichas na reunião do G-8 e reafirmam compromisso para o acordo UE-Mercosul. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente da Comissão Européia – o órgão Executivo da União Européia (UE) -, José Manuel Durão Barroso, destacaram ontem a necessidade de que a Rodada de Doha das negociações para a liberalização comercial realizadas no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC) seja concluída com sucesso.
Para o presidente Lula e Durão Barroso, o fracasso da rodada representaria um revés ao multilateralismo.
Em pronunciamento conjunto realizado após reunião de trabalho, Durão Barroso e o presidente Lula reafirmaram o compromisso com as negociações para um acordo de livre comércio entre a União Européia e o Mercosul. Mas enfatizaram que a prioridade de curto prazo deve ser a Rodada de Doha. Essa é a primeira vez que um presidente da Comissão Européia visita o Brasil.
“É fundamental que cada um faça a sua parte. O Brasil está fazendo a sua. Mas os maiores gestos têm que vir dos países mais ricos. Acesso aos mercados agrícolas é muito importante. Mas ainda mais fundamental é a eliminação das distorções causadas pelos subsídios”, afirmou Lula.
Durão Barroso concordou que os países mais ricos devem fazer os maiores esforços. Lembrou, porém, que os países menos desenvolvidos têm de realizar concessões nas áreas de serviços e produtos industrializados. “O êxito é essencial. Daria mais confiança aos mercados e investidores”, disse ele, destacando que a liberalização do comércio garantiria o desenvolvimento econômico e social dos países mais pobres.
A aposta do presidente brasileiro é que a próxima reunião do G-8 (grupo dos sete países mais ricos do mundo mais a Rússia), a ser realizada em julho em São Petersburgo (Rússia), talvez seja a última oportunidade para os líderes chegarem a um acordo sobre “as linhas gerais de um pacote ambicioso e equilibrado”.
“Somente com um comércio verdadeiramente livre de barreiras e subsídios poderemos integrar milhões de seres humanos à economia mundial”, afirmou Lula.
O presidente da Comissão Européia afirmou a intenção de ter manter uma “relação preferencial” e cada vez mais estreita com o Brasil, “país que demonstra liderança na região (sul-americana) e no mundo”. Em 2005, as exportações brasileiras à UE representaram 22% de todos os embarques do País. Já as importações de produtos do bloco totalizaram 25% das compras externas do Brasil. Segundo Lula, o “estoque de investimentos europeus” no Brasil é de US$ 150 bilhões.
“O Brasil segue empenhado na conclusão exitosa das negociações do acordo de associação entre o Mercosul e a União Européia. Tenho certeza que, com pragmatismo e realismo, chegaremos a um acordo ambicioso e equilibrado até o final deste ano”, complementou o presidente brasileiro.
Lula respondeu as críticas feitas anteontem por Durão Barroso de que os recentes atritos entre os países integrantes do Mercosul são a causa da falta de avanço nas negociações com a UE. “Apesar das vicissitudes e assimetrias, e a despeito do ceticismo de alguns, estamos construindo um espaço econômico integrado. Nossa região tem acompanhado com interesse a evolução da Europa no caminho da integração, seus avanços e ocasionais recuos.”
Apesar da expectativa de que a escolha brasileira por um padrão de Televisão Digital seria um dos temas da pauta da reunião, os dois presidentes não comentaram o assunto em seus pronunciamentos. Fontes do governo afirmam que o Brasil adotará o padrão japonês, e não o europeu ou o americano.
Ficou acertado no encontro que Brasil e UE reforçarão as parcerias em projetos nas áreas social, de ciência e tecnologia, turismo, segurança energética, meio ambiente e desenvolvimento sustentável.
Durão Barroso propôs um “diálogo reforçado” sobre biocombustíveis e convidou o Brasil a participar do Programa Galileo de navegação por satélite e do projeto de construção de um reator a fusão nuclear para produção de energia. “Queremos desenvolver um trabalho conjunto nas áreas de saúde, alimentação, biotecnologia e nanotecnologia”, complementou o presidente Lula.