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Reforma cambial sai logo, diz Furlan

O ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, disse ontem que a turbulência externa “atropelou” as medidas de flexibilização cambial que deveriam ter sido anunciadas esta semana pelo Ministério da Fazenda. Furlan ressaltou, porém, que a equipe formada por técnicos da Fazenda e do Banco Central continua a estudar formas de alento aos exportadores. “A expectativa de que possamos adotar medidas cambiais nas próximas semanas continua. As turbulências externas não tiraram a disciplina do grupo”, afirmou, no encerramento do Congresso da Indústria 2006.

Furlan disse acreditar que a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) continuará em queda, mas preferiu não detalhar de quanto e quando será a nova redução. Ainda sobre o câmbio, o ministro espera que governo e sociedade civil trabalhem juntos para alavancar os trabalhos no Congresso para a votação da Lei da Reforma Cambial, que tramita desde fevereiro.

De acordo com o ministro, um ponto positivo da turbulência externa que afetou o mercado financeiro foi mostrar que o Brasil está preparado e resistente às crises internacionais. Na avaliação de Furlan, graças ao volume de reservas conseguido com as contas externas a turbulência no mercado financeiro não teve nenhum impacto sobre o comportamento das empresas nem sobre as exportações. “O Brasil está muito mais preparado que no passado para enfrentar problemas externos”, afirmou.

Furlan descartou a tese de que a valorização do dólar tenha tido impacto positivo nas exportações. Segundo ele, comércio exterior não é uma compra de supermercado, em que o consumidor passa na porta e decide se vai comprar ou não algum produto. “O comércio exterior requer planejamento e infra-estrutura. Esse espasmo do mercado não tem qualquer efeito concreto a médio prazo.”

Ele evitou afirmar que o real vai partir agora para um novo ponto de equilíbrio, mais favorável às exportações. Para Furlan, é necessário esperar uma acomodação do mercado que, aí sim, dirá se o câmbio terá um novo nível de equilíbrio. Ele reiterou que o governo vai aguardar a volta da estabilidade do mercado financeiro para anunciar medidas de flexibilização cambial, o que deve ser feito em, no máximo, duas semanas.

MEIRELLES

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, reiterou ontem que o comportamento recente do mercado financeiro – que após fortes stress registrou recuperação quinta-feira e ontem – é uma comprovação de que a economia brasileira tem uma vulnerabilidade externa significativamente menor que no passado. “Tivemos uma mudança estrutural importante no cenário externo, que gerou ajustes importantes, e essa turbulência que vimos no começo da semana não teve o efeito de gatilho de uma deterioração dos ativos brasileiros. Ao contrário”, afirmou, em almoço promovido pela Associação das Empresas Distribuidoras de Valores (Adeval). Meirelles acrescentou que essa condição permite à economia brasileira navegar com mais tranqüilidade nos ciclos internacionais.

Ele destacou que entre os fatores que estão claros, um é especialmente importante: a política monetária nos Estados Unidos. Uma vez que parece encerrado o período de política acomodatícia naquele país, afirmou Meirelles, o cenário externo de liquidez naturalmente não será tão benevolente como nos últimos anos. Isso provoca uma acomodação que pode ser truculenta, sobretudo para os países de maior risco.