O Banco Mundial (Bird) e o BNDES estão prontos para financiar arranjos produtivos locais (APLs) voltados à produção de etanol, numa cadeia interligada que iria desde a plantação da cana-de-açúcar até o uso do bagaço na produção de energia. A informação é do ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues. Segundo ele, há grande interesse de empresários nacionais e estrangeiros em participar desse sistema inovador de energia alternativa.
Rodrigues disse que os APLs — pólos de produção — funcionariam da seguinte maneira: a indústria compraria uma pequena propriedade de terra e montaria uma usina de álcool preparado com cana-de-açúcar produzida pelos agricultores locais, que trabalhariam com preços atrelados ao etanol; como todo ano uma quinta parte da lavoura precisa ser renovada, um pedaço da propriedade serviria para a plantação de soja, que, por sua vez, daria origem ao biodiesel para alimentar máquinas, tratores e a própria usina; o mesmo tratamento receberia o bagaço de cana, que também seria usado como fonte de energia para os moradores das cidades vizinhas.
— Isso é importantíssimo também para garantir sempre oferta de etanol. Existe uma reiterada posição de países, especialmente os asiáticos, que querem comprar etanol, mas que duvidam da capacidade brasileira de manter uma oferta sistêmica — afirmou Rodrigues.
O ministro enfatizou que a agroenergia é o novo paradigma para a agricultura mundial, tendo em vista que a demanda por etanol cresce de forma progressiva. Ele destacou que uma das vantagens dos APLs é a geração de empregos e renda:
— A indústria vai contratar os agricultores que residem na região e vai ligar o preço da matéria-prima ao etanol. A cana representa 70% do valor do álcool, o que permitirá criação de um colchão de renda sustentável ao longo do tempo.
O ministro da Agricultura observou que o bagaço de cana surge no período da safra. Nessa época, o produto pode ser usado para fornecer energia elétrica para a indústria e as comunidades vizinhas. Como alternativa à entressafra, seriam plantadas árvores, que forneceriam energia de carvão vegetal.
— E ainda tem o farelo de soja, usado na criação de suínos. O esterco dos porcos seria aproveitado como adubo no canavial — disse Rodrigues.
Esse tipo de investida, segundo o ministro, pode ser financiado pelos organismos multilaterais de crédito como mecanismo de desenvolvimento limpo. É uma resposta ao Protocolo de Kioto, que prevê a redução da emissão de carbono no mundo.
Representantes do governo brasileiro estão no Japão para negociar a abertura daquele mercado para o etanol, entre eles o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e técnicos do Ministério da Agricultura. A missão também vai discutir com autoridades japonesas a exportação de álcool e o financiamento para a implementação do Plano Nacional de Agroenergia, que agrega esses APLs.