Diante das poucas chances de se conseguir progressos consistentes nas conversações sobre comércio global, no âmbito da Organi-zação Mundial do Comércio (OMC), nesta sexta-feira e sábado, no Rio, o comissário de Comércio da União Européia (UE), Peter Mandelson, afirmou ontem que espera obter avanços nas relações bilaterais UE-Mercosul.
“Não podemos deixar que o acordo multilateral esgote o bilateral”, disse Mandelson, que ontem visitou a região de Ribeirão Preto e deu rápida entrevista coletiva no final da tarde. “Vi a enorme capacidade que o Brasil tem de aproveitar as oportunidades para aumentar o comércio na OMC e criar novos empregos”, afirmou. Mas, “quero que as relações entre UE e Mercosul funcionem e vou trabalhar (para que o acordo saia) neste ano”, disse. “Obviamente, as conversações de Doha são prioridade para Amorim”, ressalvou, citando o chanceler brasileiro Celso Amorim.
Mandelson reúne-se hoje e amanhã, no Rio, com Amorim, com o representante comercial dos Estados Unidos (EUA), Robert Portman, e com o diretor geral da OMC, Pascal Lamy. “Todo o comércio multilateral depende dessas negociações. Por isso, estou concentrado naquilo que podemos atingir e no que podemos falhar. Ou seja, espero que durante as discussões sobre OMC possamos definir condições realistas de comércio, respeitando as limitações dos países”, afirmou.
Em seguida, o comissário europeu voltou a falar sobre comércio bilateral: “O Brasil e a Comunidade Européia possuem excelentes relações econômicas e isso precisa ser amparado por acordos. Espero que minha visita ao Brasil contribua para reforçar essa parceria.”
Mandelson visitou ontem a unidade de Jaboticabal da Coplana – Cooperativa dos Produtores de Cana da Zona de Guariba, onde pôde ver um dos maiores armazéns de amendoim do mundo. O comissário almoçou na Fazenda Santa Luzia, em Guariba, do ministro da Agricultura Roberto Rodrigues, e também conheceu a Usina São Martinho, uma das maiores produtoras de açúcar e álcool do planeta, que processou mais de 7 milhões de toneladas de cana na última safra.
“O Brasil, com sua competitividade e escala de produção, está em condições privilegiadas junto aos outros países em desenvolvimento”, afirmou Mandelson. Mas o comissário não disse uma palavra sobre combustíveis renováveis. Perguntado sobre o assunto, limitou-se a responder: “Prefiro não falar de álcool e biodiesel.”
“Pela primeira vez vi a eficiência fenomenal e o potencial do Brasil, principalmente na agricultura. Há grandes ganhos à espera (do Brasil) em todos os setores, mas especialmente na agricultura”, disse Mandelson. Segundo ele, “o Brasil tem enormes oportunidades de expandir suas cadeias agrícolas e o mercado europeu é o caminho natural para isso. Mas uma negociação bem-sucedida é uma via de duas mãos. Assim como não se pode bater palmas com uma mão só, não se pode beneficiar apenas um dos lados em um acordo.”
Para Mandelson, “não existe nenhum parceiro que fez proposta mais ampla do que a UE. As pessoas podem até não gostar, mas se elas quiserem que nós abramos os mercados agrícolas, precisa haver algo em troca.”
Ao final da entrevista, o comissário arranjou tempo para falar de TV Digital. “O padrão europeu proporciona menor custo para o cidadão, o maior potencial tecnológico e a opção de trazer para o Brasil os melhores investimentos em tecnologia da informação.”