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Bunge critica biodiesel e diz ter interesse em adquirir usina de cana

O governo optou pelo caminho mais longo para a produção de biodiesel ao eleger a agricultura familiar como fornecedora prioritária de matérias-primas, declarou ontem o gerente de Novos Processos e Biocombustíveis, Tecnologia e Inovação da Bunge Alimentos, Federico Kladt. Esse foi o motivo que levou a multinacional a ficar fora do negócio, informou.

Ele disse que sua empresa não tem interesse em trabalhar com a agricultura familiar e não concorda com a decisão do governo de dar tratamento tributário diferenciado às empresas que não dispõem do que o governo denominou “selo social”. Sem esse requisito, os produtores de biodiesel receberão o mesmo tratamento tributário dos produtores de combustível mineral. “Acreditamos que esse caminho está conceitualmente incorreto”, disse o executivo, que participou de sessão da Feira de Negócios do Setor de Energia (Feicana/Feibio), em Araçatuba (SP).

A Bunge reúne boa experiência na produção de biodiesel na Europa. A produção européia, a partir da canola, alcança 1,4 bilhão de litros por ano. Kladt defende isonomia tributária para os produtores de biodiesel, seja processado com matéria-prima fornecida por agricultores familiares ou em escala comercial.

O veto à produção de biodiesel no Brasil partiu da matriz Bunge Ltd, que acredita haver outras formas de promover a inclusão social sem comprometer as metas de produção do combustível. Em vez do biodiesel, a empresa, segundo Kladt, optou por participar do mercado de açúcar no Brasil e já está negociando os primeiros contratos da commodity em mercados como a Rússia e países do Oriente Médio. Para negociar açúcar brasileiro no mercado internacional, a multinacional investe em infra-estrutura para embarque de açúcar no porto de Paranaguá.

A Bunge, segundo Kladt, chegou a se interessar em adquirir usinas de açúcar e álcool no País. O projeto não prosperou porque os preços de algumas unidades eram excessivamente elevados. Há cerca de um ano, o preço era de US$ 30 por tonelada de capacidade produzida. Hoje, a cotação de uma boa usina subiu para US$ 80 por tonelada, disse o executivo.

O governo não vai abrir mão de seu projeto de promover inclusão por meio da implantação do biodiesel no Brasil, declarou o subchefe-adjunto da Casa Civil da Presidência da República, Rodrigo Rodrigues. “Este é um programa, cujos fundamentos o governo Lula não vai abrir mão”, avisou. “O governo acredita na sua viabilidade econômica, especialmente porque a produção do combustível será regional e destinada a atender aos mercados locais”, disse.