Mercado

Governo reduzirá mistura de álcool na gasolina

Como não conseguiu fazer valer o acordo firmado no mês passado, que fixou em R$ 1,05 o preço do litro do álcool no atacado, o governo avisou ontem aos usineiros, em reunião no Palácio do Planalto, que está decidido a reduzir, de 25% para 20%, a mistura de álcool anidro à gasolina, o que provocaria uma queda da demanda pelo combustível junto às usinas. O acerto entre governo e usineiros, feito em 11 de janeiro, para segurar os preços do álcool — que vinham afetando até o custo da gasolina — teve efeito contrário. Semana passada, o consumidor novamente pagou mais caro por álcool e gasolina.

Os preços subiram devido à tentativa de usineiros de compensar, no álcool hidratado (usado diretamente no tanque), as perdas com o congelamento do anidro (misturado à gasolina). No Rio, o preço do álcool hidratado chegou a passar de R$ 2 o litro em alguns postos.

Os empresários foram também informados que outras medidas deverão ser tomadas, se o acerto continuar a ser burlado. Uma delas seria a redução da tarifa de importação do álcool. Nesse caso, o combustível iria para a lista de exceções da Tarifa Externa Comum (TEC). Participaram da reunião com os usineiros os ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Roberto Rodrigues (Agricultura) e Silas Rondeau (Minas e Energia).

O impacto do descumprimento do acordo na gasolina foi imediato na semana passada. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor da gasolina nos postos do país subiu em média 0,19%, de R$ 2,501 entre 5 e 11 de fevereiro para R$ 2,506 entre 12 e 18. Além disso, para compensar o congelamento, os usineiros teriam elevado o preço do hidratado em 3,5% após o acordo, o que significou alta de 6,72% nas bombas. Só na semana passada, a média de preço do álcool hidratado subiu 1,03%, para R$ 1,761. No Estado do Rio, a alta foi em média de 1,22%, para R$ 1,898. Com a alta dos preços do açúcar no mercado externo, muitos empresários têm desviado a produção.

Segundo levantamento do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea)/USP, no estado de São Paulo, que tem 60% da produção nacional, a média de preços do álcool anidro no atacado subiu para R$ 1,073 por litro na semana passada — 1,9% acima do teto estipulado. Em nota, a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica) disse que o compromisso com o governo foi rompido “em decorrência da forte pressão do mercado”, e que a safra poderia ser antecipada. Segundo um dos participantes da reunião, os representantes do setor privado se disseram preocupados com uma forte pressão de preços, externos e internos.

Fecombustíveis critica congelamento de preços

Para o presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis), Gil Siuffo, o governo foi incompetente ao congelar os preços.

— Apesar de o álcool ser um produto agrícola, ele hoje faz parte da matriz energética do país e continua controlado pelo Ministério da Agricultura, que não entende nada de combustíveis. O governo fica fazendo lobby para defender os produtores enquanto deveria defender o consumidor — disse Siuffo, que defende a redução do percentual de álcool na gasolina, o que, segundo ele, geraria um excedente de 25 milhões de litros no mercado e derrubaria preços.

O Nordeste, que tem 15% da produção nacional de álcool, não participou do acordo pois tem preços maiores, devido a problemas de logística. O presidente do Sindicato das Indústrias do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar/PE), Renato Cunha, quer que o governo incentive a formação de estoques e é contra o pleito dos usineiros de elevar os preços:

— Daqui a dois meses, quando a safra começar e o preço despencar, esta queda não será repassada ao consumidor.

Os preços do barril de petróleo tipo Brent subiram ontem 2,72%, para US$ 61,53, devido a um ataque a um oleoduto na Nigéria. O mercado de Nova York não funcionou por ser feriado nos EUA.