Cinco semanas após fazerem acordo com o governo para manter o preço do litro do álcool combustível a R$ 1,05, os usineiros romperam o acerto e passam a comercializar o produto a R$ 1,07.
O álcool anidro foi negociado nesta semana a R$ 1,07279 por litro, com alta de 2,54% sobre os valores da semana passada. O hidratado subiu para R$ 1,07213 -mais 3,3%. Os dados são do Cepea, órgão que acompanha semanalmente os preços no setor.
O Ministério da Agricultura está avaliando os números do Cepea e vai se manifestar na próxima segunda-feira.
Os preços, acima do acertado entre governo e setor privado, confirmam “a enorme pressão exercida pelo mercado e que vem sendo observada desde a assinatura do acordo”, afirmou a Unica (União da Agroindústria Canavieira de São Paulo) em comunicado à imprensa. Para a entidade, os preços ganharam vigor nesta semana.
A Unica afirma que os preços atuais de mercado “indicam a relação atual entre oferta e demanda” e que há uma pressão ascendente no mercado internacional.
Um participante desse mercado diz que dificilmente o acordo seria respeitado porque o cenário atual é bem diferente daquele do período do acerto, na primeira quinzena de janeiro.
As pressões internacionais por compra aumentaram nas últimas semanas e os importadores chegam a oferecer R$ 1,15 por litro. “Nessas circunstâncias, não há quem coloque amarras no mercado”, afirma.
Diante da alta de preços, a Unica diz que agora deve haver um esforço para a antecipação da safra e garantir uma oferta adicional de 850 milhões de litros.
O Cepea, responsável pela pesquisa de preços, também não comentou os dados apurados na semana. “O Cepea é um órgão eminentemente técnico e, diante de impasses que parecem se inclinar para o âmbito político, prefere se isentar, acompanhando apenas as negociações”, diz o comunicado.
Na bomba
O aumento dos preços do álcool nas usinas ocorre em uma semana em que a Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) registra pressão menor nas bombas na cidade de São Paulo. Os preços do álcool continuam em alta, mas com reajustes menores, diz o economista Paulo Picchetti.
Os preços médios praticados nos postos de São Paulo na segunda semana deste mês foram apenas 0,4% superiores aos do mesmo período de janeiro. Na primeira semana a alta havia sido de 3,5%, afirma Picchetti.
Picchetti diz que essa pressão menor nas bombas ocorre porque as vantagens do preço do álcool estão se esgotando em relação às da gasolina.
Toda vez que o preço do álcool atinge 70% do da gasolina, o uso do combustível da cana-de-açúcar perde competitividade em relação ao derivado do petróleo para a maioria dos veículos. Atualmente em 67%, essa paridade já estaria deixando fora do mercado do álcool alguns modelos de carros que passam a ser menos competitivos já com a paridade de 60%, diz o economista da Fipe.
Fonte do setor usineiro afirma que, se ainda é cedo para apostar no fim dos reajustes nos preços do álcool, o aumento para os consumidores não deve ser acentuado. As distribuidoras, que deixaram de repassar aos consumidores a baixa do preço nas usinas, agora vão diminuir as margens de lucro para não perder participação de mercado.
Os dados do mercado futuro de álcool da BM&F também apontam para elevação nesta semana, após terem mostrado tendência de queda na anterior.
Pesquisa da Folha mostra que os preços do álcool continuam subindo. Nesta semana, o valor médio do litro foi a R$ 1,60 nos postos de São Paulo, 1,7% mais do que na semana anterior.
Inflação zero
Sem a pressão do álcool, como ocorreu em janeiro, a inflação média recuou para 0,01% na segunda quadrissemana deste mês na cidade de São Paulo.
Já a segunda prévia do IGP-M registrou deflação de 0,01%.