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Governo fecha acordo e congela preço do álcool

O governo fechou ontem um acordo com os usineiros para segurar os preços do álcool, que vêm causando impacto também na gasolina. A partir desta semana, o álcool anidro será vendido no atacado a R$ 1,05 o litro, conforme antecipou O GLOBO. Na semana passada, o produto custava R$ 1,08. Com a redução, o hidratado, usado nos carros flex (bicombustíveis), deverá ficar em R$ 0,95, pois a diferença entre os dois é de cerca de dez centavos. Em troca, o governo garantiu aos produtores a adoção de um programa de estocagem permanente para evitar flutuações de preço e garantir o abastecimento na entressafra.

Governo e setor privado, no entanto, não se comprometeram com a redução dos preços para o consumidor, porque isso dependeria de acordo com as distribuidoras. O secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Murilo Portugal, destacou que o principal resultado da medida é o freio nos preços no atacado e lembrou que o governo não tinha idéia de onde eles podiam chegar.

— Se sobe na usina, sobe nas bombas — frisou o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que presidiu a reunião, que contou ainda com os ministros da Fazenda, Antonio Palocci, e da Casa Civil, Dilma Rousseff.

— Fizemos um acordo para cessar o crescimento dos preços do álcool — reforçou o ministro interino de Minas e Energia, Nelson Hubner.

Caberá à Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Açúcar e do Álcool — formada por representantes do setor privado e do governo — desenvolver o programa de estocagem, que envolverá também financiamento de capital de giro aos produtores.

O valor e as condições do financiamento não foram discutidos na reunião porque a formação de estoques só acontecerá em meados deste ano, quando o mercado estará abastecido com folga.

Usineiros: ninguém trabalha para perder dinheiro

Segundo cálculos da Agricultura, será necessário R$ 1 bilhão para obter um estoque de dois bilhões de litros. O valor foi estimado com base na produção atual de 16 bilhões de litros a um custo de R$ 0,75, o que equivaleria a R$ 12 bilhões.

Durante o encontro, os usineiros também se comprometeram a garantir o abastecimento do produto e, se necessário, antecipar a produção de maio para março.

— Foi um acordo histórico e uma decisão difícil para o setor, que vai deixar de lucrar — disse Rodrigues.

— Ninguém trabalha para perder dinheiro — disse o presidente da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo, Eduardo de Carvalho, dando a entender que o setor teria faturado o suficiente na entressafra.

Rodrigues defendeu um volume de estoque de 3,5 bilhões de litros, que dê para atender o consumo por três meses. Disse que o segmento deve arcar com os custos, mas que o governo está disposto a ajudar para facilitar o processo.

— Sou a a favor que o setor privado banque a estocagem. Mas, se for necessário que o governo dê financiamento para dar o pontapé inicial, vamos estudar.

Ao ser perguntado sobre o impacto da fixação do preço do álcool na inflação, Portugal respondeu que o produto representa apenas 1% no IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que orienta o sistema de metas do governo.